Após três semanas no Brasil, estamos de volta à Moçambique. Meu dilema deve ser o mesmo daqueles que escolhem abraçar uma oportunidade de trabalho no exterior.... quando voltamos ao Brasil, somos hóspedes, não moradores. Nossa casa não é mais nossa casa, nosso carro não está mais na garagem, nosso antigo cargo na empresa já foi ocupado. Tudo mudou pra nós ... talvez não para nossos amigos e parentes que continuam fazendo o que sempre fizeram, morando onde sempre moraram ... com algumas exceções.
Daí, vem aquela sensação de não pertencimento ... não temos casa, emprego neste lugar... não pertecemos mais a este lugar. Bom, após várias farofadas com a família, cerveja brasileira, saída com os amigos .... quase nos sentimos de volta ao lar .... mas daí já é hora de voltar.
Chegar a Maputo pode ser decepcionante para turistas e moradores. Primeiro o stress de passar com as malas pela alfândega do aeroporto.... somos três... com três malas e um pacote .... malas novas, tudo combinando.... é claro que somos sempre parados e temos todas as nossas coisas remexidas .... se fosse em nome da segurança, tudo bem.... mas não é .... a cara de pau dos caras é demais .... querem um refresco (juro que na próxima vez vou comprar um TANG LARANJA e deixar na minha bolsa) ... querem propina pra liberar nossas malas. Desta vez tivemos sorte, as malas não chegaram (quando isto passou a ser sorte?) ... ficaram para o voo da noite ... menos mal, o motorista da empresa foi buscar e não precisamos passar por este transtorno outra vez. Mas só de passar e ver outras pessoas desavisadas passando por esta situação, já nos deixa com uma sensação ruim. No caminho pro hotel, pararam nossa van em uma blitz. Assim, do nada. O guarda quer dinheiro ... o motorista da empresa diz que não tem (o que certamente pode ser verdade) ... o guarda pega a carteira do motorista e diz que ele tem até uma determinado horário para trazer o dinheiro e ter sua carteira de volta. Ai que ódio!!!!! O motorista começa a trabalhar às 4h30 da madrugada e tem que passar por isto quase todo dia. Ele diz que não há o que fazer. Ou há? Despachar as malas para Tete no dia seguinte é outro tormento. Eles sempre vão atrás do meu marido na sala de embarque pedindo "esclarecimentos" sobre o conteúdo das malas .... e pedindo um refresco, claro.
Entretanto, hoje tive uma sensação diferente quando vi do avião os contornos do Rio Zambeze e de longe a ponte que corta a cidade de Tete. Parecia uma sensação de estar chegando em casa, quase uma sensação de pertencer a este lugar. Talvez seja saudade da minha cama, dos meus lencóis, da minha TV, da minha geladeira, do meu carro.... ou talvez seja apenas saudade de Tete. Será?