Me parece que as mulheres moçambicanas estão desiludidas com o amor. Vamos aos três casos mais próximos Dona P, Dona R e Dona J que trabalham na limpeza das casas aqui do condomínio onde moro.
Dona P. tem 29 anos mas sua patroa diz que ela é apenas uma adolescente de 15 anos cujos sonhos já foram destroçados. Casou cedo, teve 2 filhos e, como a maioria das mulheres daqui, foi abandonada pelo marido que saiu e nunca nem olhou pra trás, deixando a mulher e os filhos a própria sorte. Após arrumar este emprego, sua vida começou a melhorar e hoje ela está dando conta de criar os filhos e seguir com sua vida. Alguns dias atrás, o ex-marido passou por ela de moto e vendo que ela estava bem vestida e com um aspecto feliz, parou e mandou subir na moto ... ela disse NÃO e ele ficou furioso. Fez bem ela!!!! Mas quando foi comentar o episódio disse algo muito triste. Disse que prefere ficar sozinha porque tem medo dos homens.... eles só querem se aproveitar das mulheres, fazer filhos nelas e depois abandoná-las.
Dona R. tem mais de 30 anos, está separada do primeiro marido e tem dois filhos. Estes dias não pude evitar de perceber a barriga saliente e quando perguntei a ela, ela sorriu sem graça e confirmou que estava grávida. Parece que é de um homem casado que vive na capital do país. Mais um moçambicano a ser criado sem pai. Quando perguntei a ela sobre o que ela estava planejando em relação a chegada do bebê, pude ver em seus olhos que o verbo "planejar" não faz nenhum sentido pra ela. Tentei ser mais específica questionando que se ela quiser continuar a trabalhar, alguém terá que cuidar do bebê. A resposta veio no tempo verbal mais usado pelos moçambicanos: "Há de haver alguém pra cuidar, Senhora".
No terceiro caso, Dona J. tem 6 filhos e o marido caiu na estrada, foi embora e deixou toda a responsabilidade em suas costas .... 6 filhos. Sem mais comentários.
Fiquei sabendo de um outro caso de uma colega de outro país africano que mora aqui na cidade. O marido escondeu os passaportes dela e dos filhos para que ela não consiga fugir dos maus tratos que ele impõe a ela.
Uma amiga missionária diz que bater nas esposas, apesar de ser contra a lei, é algo aceito pela sociedade em geral, especialmente nas classes menos favorecidas. Nas igrejas, o fim da violência contra as mulheres é um tema recorrente, mas a repercução do discurso na realidade das famílias ainda não é eficaz.
Creio que o Brasil esteja mais estruturado em relação a isto. Temos delegacias especiais para receber mulheres, casas de apoio, entre outros. Em Moçambique, ainda há um longo caminho a percorrer.
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