segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Mais sobre a Africa e seus problemas políticos

Você sabe em que país africano mais de um milhão de pessoas foram assassinadas em apenas cem dias há pouco mais de uma década?
Resposta: Em Ruanda, um pequeno país montanhoso na África que foi colonizado pelos Belgos, encravado entre o Uganda, a norte, a Tanzânia, a leste, o Burundi, a sul e a República Democrática do Congo, a oeste.

Desde o período da colonização, foram estabelecidos dois grupos étnicos em Ruanda: a maioria hutu e o grupo minoritário de tutsis. Os tutsis eram predominantemente pastoreiros e apresentavam maior estatura. Os hutus, de pele mais escura e menor estatura, tinham tradição agrícola. A partir da colonização sob o domínio alemão, e posteriormente belga, esses dois povos tiveram sua organização modificada.
Os tutsis foram escolhidos para assumirem cargos da administração estatal, treinamento militar, acesso exclusivo à educação, uma vez que as escolas exigiam estatura mínima, visando impedir o ingresso dos hutus. Tinham estatura vigorosa; raça pura, que os alemães da época tanto prezavam. Descendentes, talvez, da Rainha de Sabá.
Os hutus, pelo contrário, eram agricultores e de aparência física mais fraca. Eles não caíram nas graças dos alemães. Quando chegaram à região, os belgas continuaram a mesma política de discriminação, e assim incentivavam a rivalidade entre essas duas tribos, rivalidade que continua até hoje e que provocou genocídios como o ocorrido em 1994.
O conflito entre tutsis e hutus é mais uma demonstração do efeito retardado da política colonial européia no continente africano. Até o início da colonização alemã na região, as duas etnias viviam em relativa harmonia, no território que hoje é ocupado por Ruanda e Burundi.
Em 1959, os ressentimentos acumulados pelos hutus no período colonial explodem. Nesta primeira rebelião, militares tutsis foram aprisionados e tiveram seus pés cortados a golpes de facão, com o objetivo de diminuir a diferença de estatura (e, simbolicamente, diminuir as diferenças sociais).
Em 1962, a Ruanda tornou-se independente e a minoria tutsi ficou a mercê dos hutus, sendo obrigado a migrar para Uganda, a fim de organizarem uma nova tomada de poder. Este conflito se intensificou a partir de abril de 1994, quando os presidentes de Ruanda e Burundi, de etnia hutu, foram mortos em um atentado que derrubou o avião onde viajavam juntos. Foi o estopim para o genocídio com mais de 1 milhão de mortos e mais de 2 milhões de refugiados.
Em julho de 1998, foi elaborado um acordo de cessar fogo, com o estabelecimento de um governo formado por representantes tutsis e hutus. Mas esse acordo pouco resultado tive. As rivalidades continuam até hoje.
O genocídio em Ruanda começou na noite de 6 de abril de 1994, depois que o avião no qual viajavam os presidentes de Ruanda e de Burundi foi derrubado. Naquele momento, tentou-se convencer a ONU a aumentar sua missão de paz no país e a dar-lhe poder para impedir os massacres, mas os membros do Conselho de Segurança da organização votaram, ao invés disso, pela diminuição da força estacionada no país africano, que passou de 2.500 integrantes para 450.
Após este episódio, o país enfrentou sua maior crise alimentícia dos então últimos 50 anos, ao mesmo tempo em que aumentava os gastos militares em detrimento a investimentos em infra-estrutura e serviços públicos.Talvez nunca se venha a saber quantos mortos provocou. Calcula-se entre um milhão a dois milhões. Se foram 800.000 equivaleriam aos 11 por cento do total da população e 4/5 dos tutsis que viviam no país. Tampouco se sabe quantas vítimas provocou a vingança hutus .
Romeo Dallaire, militar ruandense em exercício na época do massacre, fez as seguintes afirmações em uma conferência realizada na capital para lembrar os dez anos do massacre:
"Algumas potências ocidentais são 'criminalmente responsáveis' pelo genocídio de 1994 em Ruanda porque não fizeram o suficiente para impedi-lo."
"A comunidade internacional não deu a mínima para os ruandeses porque Ruanda é um país sem importância estratégica",
"Cabe a Ruanda não deixar que as outras pessoas esqueçam de que são criminalmente responsáveis pelo genocídio", afirmou, nomeando a França, a Grã-Bretanha e os EUA.
"O genocídio foi algo brutal, criminoso e nojento. E prosseguiu durante cem dias sob os olhos da comunidade internacional."
O filme HOTEL RUANDA retrata esta que foi uma das maiores atrocidades da história da humanidade ao contar-nos a a história verídica de Paul Rusesabagina, um homem que ao proteger a família que ama conseguiu evitar o genocídio de mais de 1200 tutsis durante a guerra civil ao conceder-lhes abrigo no hotel que dirigia na capital Kigali.
Maravilhoso! Vale a pena assisitir. O filme nos ensina que há sim a possibilidade UM homem fazer a diferença, de UMA só pessoa se posicionar e salvar muitas vidas.
Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Genoc%C3%ADdio_em_Ruanda

sábado, 9 de janeiro de 2010

África do Sul - Cape Point

No Parque Nacional Table Mountain, estão localizados os seguintes marcos históricos: O Cabo da Boa Esperança e a Ponta do Cabo.

O Cabo da Boa Esperança (Cape of Good Hope) é um cabo situado perto do extremo sul do continente africano. Foi dobrado pela primeira vez em 1488 pelo navegador português Batolomeu Dias. Contam as cronicas da época que, como foi avistado depois de vários dias em que os marinheiros sofreram violentas tempestades (tormentas), Bartolomeu Dias lhe pôs o nome de Cabo das Tormentas, mas o rei João II de Portugal mudou-lhe o nome porque, ao ser dobrado, mostrou a ligação entre os oceanos Atlântico e Índico e prometia a tão desejada chegada à Índia. Chamou-lhe, por isso, Cabo da Boa Esperança.



Bem próximo ao Cabo da Boa Esperança, está localizado a Ponta do Cabo (Cape Point) com seu cenário montanhoso de beleza indescritível. De um lado o Oceano Índico, do outro o Atlântico ... penhascos, vento forte e gelado ... foi uma sensação maravilhosa chegar ao pico e depois seguir a trilha até o farol ... na nossa frente só o oceano e a Antarctica.
Experiência única!!!!!

Confiram nossas aventuras no link abaixo:




Africa do Sul - Joburg, Sun City


As Notícias de Tete deste mês, passam a ser Notícias da África do Sul. Amei este país ... suas belezas naturais, sua fauna, sua flora e sua estrutura de primeiro mundo. Chegamos a Johanesburg, ou Joburg como dizem por lá, no dia 23 de dezembro. É uma cidade muito bonita e muito espalhada ... demoravamos uma hora, uma hora e meia para chegar em cada um dos lugares que queríamos visitar. Lugares lindos, limpos, excelentes restaurantes ... coisa fina mesmo!!!!
Passeamos no Montecasino, um complexo de entretenimento com hotéis, casinos, restaurantes, cinemas, teatros, jardins entre outras belezas. Visitamos o Rhinos and Lions Park, onde tivemos contato próximo com leões, leoas, cheetas, zebras, rinocerontes e outros animais selvagens... ficamos até o horário da alimentação dos animais ... uma experiência bem carnívora. No Lions Park, tivemos uma contato ainda mais próximo com os leões e leoas, acariciamos os bebês leões, demos comida e abraçamos as girafas.... muito legal. Fomos ao Carnivore, um restaurante de carnes de caça e comemos os viadinhos e as zebras que tínhamos visto no dia anterior (carne de zebra é uma delícia). Assistimos ao espetáculo UMOJA que conta a história dos negros africanos, seus costumes, suas lutas através da dança. O artesanato sul-africano, assim como o moçambicano, é muito bonito .... dá vontade comprar tudo e transformar a casa em um ambiente africano. Joburg, Vale a pena visitar!!!!!

A apenas duas horas de carro de Joburg está localizada Sun City .... Ai minha gente amada do meu Brasil... o que dizer de Sun City? Maravilhoso? Estupendo? Fora do comum? Ai.... nenhuma palavra é suficiente .... É DEMAIS!!!! The Palace, onde ficamos hospedados, é um palácio, como o próprio nome diz. Então a gente se sente como rainha, como VIPS. Quartos maravilhosos, piscinas maravilhosas, restaurantes maravilhosos, com vinhos maravilhosos, passeios de elefante, massagens.... tudo VIP.   QUERO VOLTAR!!!!!!

Africa do Sul - Cape Town, Vinhedos, Praias

Visitar Cape Town (Cidade do Cabo) foi uma deliciosa surpresa. Já tinha ouvido falar de suas belezas, mas fui pega desprevenida diante das maravilhas que há por lá. Esta é a segunda maior cidade da África do Sul, sendo a capital da província de Western Cape na África do Sul.

Um pouco de conhecimentos históricos antes de falar de suas belezas: Nas eleições de 1948, o Partido Nacional ganhou a plataforma do Apartheid (segregação racial). Este fato conduziu o país, e também a Cidade do Cabo, à determinação de zonas para brancos e outras para negros, fazendo desta forma a segregação racial. Alguns subúrbios multi-raciais da cidade foram a demolidos para que a ação do Apartheid fosse efetivamente cumprida. O exemplo mais flagrante desta medida foi no District Six; depois de ter sido declarado uma zona de apenas brancos em 1965, mais de 60 000 pessoas foram forçadas a mudar de residência.
A Cidade do Cabo foi a “casa” de muitos dos líderes de movimentos antiapartheid. Na Robben Island, a 10 km da costa da cidade, foi edificada uma prisão para presos políticos onde estiveram em cativeiro alguns dos mais famosos ativistas desses movimentos. A propósito, ao visitarmos a ilha, fomos acompanhados por um de seus ex-prisioneiros que hoje trabalha de guia para os turistas.
Nelson Mandela é uma das personalidade mais conhecidas da luta para o fim do Apartheid. Seu discurso, no dia 11 de Fevereiro de 1990 depois de ter sido libertado da prisão, foi o início de uma nova era para o país e as primeiras eleições livres foram levadas a cabo quatro anos depois, em 1994. Naturalmente as dores causadas por anos de segregação racial não se apagam facilmente. O país e as relações entre os sul-africanos foram fortemente marcadas por este período.

Suas belezas: A cidade é famosa pelo seu porto natural, incluindo os marcos bem conhecidos, como a Table Mountain (majestosa no meio da cidade, veja a foto acima), o Waterfront (centro de compras, entretenimento, restaurantes no porto da cidade), o Aquarium, o novo estádio de futebol para a Copa do Mundo 2010, entre outros.
Saindo de Cape Town, visitamos os vinhedos da região de Stellenbosch com a árdua tarefa de ver paisagens maravilhosas, experimentas os vinhos e os queijos produzidos localmente ... foi difícil, mas passamos o dia cumprindo nossa tarefa.
No dia seguinte, tivemos também a não menos árdua tarefa de seguir por todo o litoral e conhecer as praias do Oceano Índico cercadas de montanhas e casas majestosas.
Conclusão: Estamos procurando emprego em Cape Town!!!! Queremos voltar um dia, se possível, para ficar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os africanos são poliglótas


Nós Brasileiros fomos colonizados pelos Portugueses. Nossa língua oficial é a Língua Portuguesa (LP) sendo que algumas palavras que constam do nosso vocabulário sofreram influências dos indígenas e dos africanos que vieram ao Brasil em virtude da escravidão. Nas diferentes regiões de nosso país, podemos encontrar diferentes variações linguísticas, mas língua falada e escrita em geral é a LP.
Em Moçambique, a despeito da colonização portuguesa, a Língua Portuguesa é a língua oficial do país de acordo com o artigo 10 da nova Constituição de 2004. No entanto, o Recenseamento Geral da População e Habitação, realizado em 1997 aponta que a LP é língua materna de apenas 6% da população. Na capital, Maputo, este índice chega aos 25%, apesar de cerca de 40% dos moçambicanos terem declarado que a sabiam falar a LP.
O artigo 9 da Nova Constituição Moçambicana diz que : "O Estado valoriza as línguas nacionais como património cultural e educacional e promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas veiculares da nossa identidade". Em Moçambique foram identificadas diversas línguas nacionais, todas da grande família de línguas bantu, sendo as principais (de sul para norte): XiTsonga, XiChope, BiTonga, XiSena, XiShona, ciNyungwe, eChuwabo, eMacua, eKoti, eLomwe, ciNyanja, ciYao, XiMaconde e kiMwani.
Então tentemos compreender: grande parte das crianças moçambicanas crescem expostas às línguas locais de seus pais, seus avós ou de sua comunidade. Só quando vão a escola é que começam a ser expostas à LP. O que ocorre é que a aprendizagem de LP, na prática, acaba sendo uma aprendizagem de língua estrangeira para estas crianças. Muitas vezes elas ficam perdidas e não apresentam os rendimentos desejáveis uma vez que não entendem as instruções dadas pelos professores e estes, por sua vez, podem não compreender a língua local do seu aluno. Para amenizar estas dificuldades, há propostas de ensino bilíngue nas escolas, mas ainda em fase de experimentação.
Bom, o que me chama a atenção é a perfeição do uso da LP. Todos os moçambicanos com os quais conversei, independente de sua classe social, falam o Português corretamente, nada de variações (nós vai, nós foi)... um Português perfeito com concordâncias verbais e nominais que eu mesma só utilizo no meio acadêmico. Mas é também interessante ouvir os empregados do condomínio falando em suas línguas locais... a dicção é totalmente diferente, parece que são outras pessoas conversando. Interessante também é ouvir as brigas de nossos vizinhos (quintal de trás) que geralmente nos sábados 'quebram o pau' com xingamentos em nyungwe.... Eu me divirto de ouvir da janela da cozinha!!!!!
Agora, vejam a África do Sul. São 11 línguas oficiais: africâneringlêsndebelesoto do nortesoto do sulswatitsongatsuanavendaxhosazulu. Além disto, o país também reconhece oito línguas não oficiais como línguas nacionais entre elas: fanagalokhoelíngua gestuallobedunamandebele do nortephuthisan.
Uma das funcionárias do hotel em Sun City, com inglês fluente e gramaticalmente impecável, me disse que além do inglês falava fluentemente 4 outras línguas africanas e também me deu uma demonstração de cada uma delas explicando os malabarismos que fazem com a língua e as diferenças ao postar a voz. Fiquei de boca aberta.
Concluindo, os africanos são poliglótas, enquanto nós, brasileiros, temos que nos matar pra pagar aulinhas de inglês aos nossos filhos da infância à adolescência.

Com a palavra, os professores moçambicanos

Participei de um Seminário de Capacitação Docente nos dias 14, 15, 16 e 17 de dezembro de 2009 que visava a aprimar os conhecimentos de aproximadamente 40 professores das seguintes instituições de ensino: Escola Primária Samora Machel, Escola Secundária Heróis Moçambicanos, Escola Primária de Mitete, Sala anexa de Malabwe, Escola de Maguiguane.
Nos quatro dias do seminário, foram discutidas questões referentes ao trabalho do professor, ao processo de ensino de leitura e escrita em Língua Portuguesa, às experiências de ensino bilíngue no país, às propostas educaiconais para a conscientização da igualdade de gêneros e aos cuidados com a saúde (combate ao HIV/SIDA e nutrição).
A seleção dos tópicos veio ao encontro da realidade educacional e social moçambicana na qual: 1) grande número de alunos no Ensino Básico e Secundário apresentam graves dificuldades na Língua Portuguesa não sendo capaz de ler e compreender textos simples, 2) o ensino bilíngue começa a ganhar espaço e apresentar seus primeiros resultados, 3) os papéis de homens e mulheres na sociedade ainda é alvo de intensos debates e divergências, 4) há inúmeras denúncias de abuso sexual nas escolas e 5) o índice de contaminação em HIV/SIDA continua a progredir.
A estruturação do seminário em aulas e debates também se mostrou propícia para o desenvolvimento das atividades. Os palestrantes souberam explorar suas propostas pedagógicas com muita habilidade e, além disto, promoveram momentos de trabalho em grupo nos quais os professores tiveram a oportunidade de debater com seus pares para depois apresentar seus pensamentos diante de todos. Desta forma, os conhecimentos teóricos puderam ‘dialogar’ com a prática do professor e sua realidade pedagógica.
O grupo de teatro Kuvubma teve um papel importante no seminário apresentando pequenas esquetes retratando o cotidiano da família e dos alunos moçambicanos, retomando brevemente o conteúdo ministrado pelos palestrantes e convidando os professores ao debate.
Os relatos dos professores, durante os momentos de exposição oral, apontavam para a emergência de um plano de capacitação docente que contemple: 1) as propostas do Novo Currículo para o Ensino Básico Moçambicano, 2) aprimoramento da capacidade de leitura e escrita dos alunos e dos próprios professores, 3) contato com propostas metodológicas inovadoras que extrapolem o ensino tradicional. Creio que para suprir estas necessidades, deve-se organizar novos seminários como este e até mesmo ampliar sua proposta de capacitação com a criação de grupos de estudo sobre o novo currículo Moçambicano, clubes de leitura para professores, momentos de contação de história para os alunos nas bibliotecas.
Da mesma forma, se faz urgente a redução do assombrazo número de alunos nas salas de alfabetização (60, 70, 80 as vezes quase 100), a criação de bibliotecas nas escolas (pra mim, a biblioteca é o coração da escola) e a ampliação de recursos (além do quadro e do giz).
Em suma, foi uma experiência muito interessante poder conhecer melhor a realidade e as opiniões dos professores moçambicanos.