quarta-feira, 10 de novembro de 2010

TETE - PERGUNTAS MAIS FREQUENTES

Olá, O meu nome é Luisa, sou portuguesa, moro na Líbia e recentemente falaram na possibilidade de ir viver e trabalhar em Tete. Vi o seu blog na internet e gostaria de saber se há internet fácil em Tete, se há médicos aí, se é fácil comprar comida de confiança e se a malária é uma realidade. Pergunto também qual é a maior dificuldade da vida em tete para voce? Conhece alguém que trabalhe aí na Empresa Odebrecht? essa é a empresa em que eu trabalho aqui na Líbia. Tem aeroporto aí em Tete ou só em Maputo? A minha mae nasceu em Moçambique e tenho alguma curiosidade. Achei o seu blog muito interessante. Sem mais despeço-me por agora. Luisa

Esta foi a mensagem deixada neste blog pela colega Luisa. Desde que mudamos aqui as pessoas fazem muitas perguntas sobre Tete então, vou aproveitar a 'deixa' e fazer um ...

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES SOBRE TETE:

1) Há aeroporto em Tete?

Sim, há um aeroporto que foi totalmente reformado e atende 'bem' (entre aspas) as necessidades dos passageiros. A propósito, para chegar ou sair de Tete é interessante que você embale suas malas, pois há um costume aqui das pessoas enviarem peixes e cabritos a seus familiares. Por exemplo, eles literalmente matam o animal, cortam em pedaços, colocam em uma caixa de papelão, ‘embrulham’ em sacos de mercado e despacham. Você não vai gostar da experiência de ter sua mala perto de destes ‘pacotes’ mal-cheirosos.

2) Há hospitais em Tete?

Sim, mas você não vai querer, de maneira nenhuma, entrar em algum deles. Se vier a Tete para trabalhar, com certeza sua empresa oferecerá uma clínica só para os funcionários com médicos locais e do exterior. Sobre as doenças mais comuns, creio que nós, estrangeiros que já fomos vacinados em nossos países, tenhamos que nos preocupar mais com a Malária. A solução, neste caso, é usar repelente regularmente.

3) Onde comprar alimentos em Tete?

Ainda não há supermercados, mas os mercadinhos atendem razoavelmente a demanda. Para manter o padrão dos alimentos que comemos no Brasil, gasta-se muito. Os comerciantes sabem que do que sentimos falta e também sabem cobrar por isto. Geralmente, trazemos algumas compras de Maputo (capital) quando temos oportunidade.


4) Há escolas particulares em Tete?

Sim, posso mencionar 3 delas. A primeira é uma escola internacional na Leaf Tabaco Company onde meu filho estuda. É uma ótima escola, mas creio que atualmente só aceitam agora crianças que tenham o inglês fluente. A segunda é também uma escola internacional recém-instalada no bairro de Matema da qual não tenho muitas informações. A terceira é o Colégio Mundial com grande número de alunos moçambicanos, indianos e alguns brasileiros.

5) Quais seriam os benefícios que deveria exigir antes de aceitar ser expatriado para Tete?

Primeiramente moradia com ar condicionado, o item que julgo mais importante. Diria mesmo para não aceitar qualquer proposta na qual a moradia não esteja incluída. A presença das grandes empresas de mineração fez com que o valor dos aluguéis ficasse absurdamente impraticável. Além disto, eu colocaria locomoção (pra que você não fique isolado do resto da cidade), eletricidade (o custo é muito alto), gerador de energia na habitação (em Tete é igual aquela música... De dia falta água, de noite falta luz) e como já mencionei um atendimento clínico e hospitalar da própria empresa.


6) E a violência?

Bom, na semana passada eu diria que a cidade é pacata e aceita bem a presença de estrangeiros. Mas como minha casa foi assaltada enquanto dormíamos dentre dela, tenho que rever este meu posicionamento. Hoje vejo que a sensação de paz é ilusória. O povo moçambicano é mesmo um povo pacato, mas eles provêem de um histórico de guerra e combate, portanto, em momentos de crise, eles têm a tendência de pegar um pedaço de pau, se juntar em centenas e ir ‘resolver’ o problema. Antes do roubo, eu era mais aberta, agora não estou dando sorrisos com tanta naturalidade. Aprendi a desconfiar de tudo e de todos e que é melhor ser temida do que ser simpática.

7) E o calor?

Em algumas épocas do ano... suportável, em outras ... insuportável (ontem mesmo o termômetro do carro marcava 45.C). Não, eu não estou brincando!!!!!!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

INHACA, A ILHA QUE NÃO É UMA INHACA!!!

Próximo a capital de Moçambique, Maputo, está localizada a Ilha de Inhaca. Estivemos passeando por lá no último feriado e apesar do nome sugerir que seja uma 'inhaca', a verdade é que a ilha é um ótimo lugar para visitar e relaxar. Pegamos um aviãozinho teco-teco com nossa pilota sul-africana no aeroporto de Maputo e, 15 minutos depois, estavámos pousando suavemente na ilha.

Ficamos no PESTANA INHACA LODGE (aprovado, apesar que a  comida poderia ser melhor). Não há muita coisa pra fazer além de aproveitar a piscina e, para os mais animados, sair para os passeios de snorkel e mergulho com cilindro em determinados pontos da ilha. Legal mesmo foi absorver o sol não se pôr no cais da ilha ... exatamente, o sol não se pôs, ele foi 'apagando', ficando clarinho no céu até sumir ... penso que deveria ter prestado mais atenção nas aulas de geografia para entender o fenômeno.

Gostei mesmo foi de pegar uma lancha por 5 minutos e desembarcar na pequena Ilha dos Portugueses, um local totalmente deserto considerado reserva natural. Não tem barraca, música de axé, tia da empada, tio vendendo camiseta ... é puro silêncio, só quebrado pelo leve barunho do mar (sem onda ... odoro praia sem onda!!!!!). Desembarcamos eu, meu filho e marido e mais um casal de velhinhos, 5 pessoas em uma ilha inteira .... claro que levamos nosso coller com sanduíches e refrigerantes, afinal, também não era para parecer um episódio de LOST.

O litoral moçambicano é realmente fantástico. Pode-se dizer que deveria ser mais explorado, mas não ... é maravilhoso exatamente porque é natural e conta com pouca estrutura turística. Neste caso, certamente, menos é mais.



Pestana Inhaca Lodge

Pôr (quase) do sol no cais de Inhaca 


Ilha dos Portugueses
 

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

REPERCUSSÕES DOS ATOS DE 1 E 2 DE SETEMBRO

NOTÍCIA - Usuários de cartões do Pré-pago devem registar-se até ao dia 15 de novembro


Usuários de telefonia móvel em Moçambique deverão registar os seus cartões de celular junto as Operadoras até no máximo dia 15 de Novembro próximo.
A decisão, segundo o Ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, visa essencialmente responder à necessidade de se apurar responsabilidades em actos criminosos com recurso ao celular.
De carácter obrigatório, o registo de cartões de telemóvel abrange somente usuários da tarifa pré-pago, ficando sob pena de bloqueio todos os cartões que até ao dia 15 de Novembro não se encontrarem cadastrados nas operadoras de origem.
Anunciado em diploma ministerial 153/2010 de 15 de Setembro, o mecanismo pretende ser uma ferramenta para ajudar nas investigações de actos criminais.
Além de acautelar o uso responsável do celular, o decreto proíbe ainda a venda de cartões celular a menores de catorze anos e cada cidadão vai poder ser titular de no máximo três cartões em cada operadora.
Em declarações à Televisão de Moçambique, Paulo Zucula afirmou que a medida surge como forma de responsabilizar o cidadão a usar de forma correcta um serviço tão importante como o são as comunicações telefónicas.
Zucula apontou como alguns dos casos criminais ocorridos que agora se pretende combater, a convocação de cidadãos para aderirem a uma marcha até ao gabinete de trabalho do Presidente da República e o sequestro de pessoas e pedidos de resgate, via SMS.
“Não queremos com isso dizer que não se pode convocar uma reunião ou manifestação; mas não se pode permitir convocar-se gente para ir apedrejar a Ponta Vermelha”, disse o titular dos Transportes e e Comunicações.
O ministro sublinhou que o processo é irreversível, e apelou a todos os cidadãos a dirigirem-se às suas operadoras em tempo útil, munidos dos respectivos bilhetes de identidade e certificados de residência ou outros documentos válidos, onde vão responder a um formulário já disponível.
Recorde-se que dias antes das manifestações violentas ocorridas nos dias 1 e 2 de Setembro contra o custo de vida nas cidades de Maputo e Matola, estas foram convocadas por via de mensagens de celular, por indivíduos até aqui desconhecidos.
Em Moçambique, os cartões de celular das operadoras de telefonia móvel (mCel e Vodacom) podem ser adquiridos por apenas vinte meticais (alguns cêntimos do dólar) em qualquer lugar, inclusivamente na rua e barracas.
Fonte: RM

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ENQUANTO ESTÁVAMOS FORA .... O NEGÓCIO PEGOU FOGO POR AQUI!!!!

Enquanto estávamos fora, as coisas pegaram fogo aqui em Moçambique. Ouvi relatos de brasileiros, li notícias nos jornais e vou tentar resumir os acontecimentos de 01 e 02 de setembro de 2010 em Maputo nas frases abaixo:

Guebuza e sua equipe anunciam 50% de aumento de preços para gêneros de primeira necessidade (luz, pão, entre outros).
Moçambicanos começam a mandar SMS convocando a população para ir às ruas protestar.
População se aglomera próximo ao aeroporto de Maputo, queimando pneus e saqueando lojas em busca de alimentos.
Polícia intervém inicialmente com balas de borracha.
As balas de borracha acabam.
Polícia começa a soltar tiros de verdade para conter a população.

Oficialmente, seriam 13 mortos e 140 feridos, mas o fato é que não há números exatos, dizem que foram muito mais de 13 mortos. Guebuza e sua equipe retrocedem e apresentam novas propostas de subsídios governamentais para evitar aumentos de 50% incluindo corte de benefícios e aumentos de salários dos próprios governantes.

Este episódio demonstra algo que é latente, em meu ponto de vista, em Moçambique .... o DESPREPARO. Governo despreparado para tomar decisões. Povo despreparado para protestar por seus direitos. Polícia despreparada para realizar seu trabalho. Despreparo, despreparo, despreparo. Vivencio este despreparo todos os dias, nas mais pequenas coisas. Não é falta de vontade. Não é preguiça. É despreparo mesmo.

Além disto, concluo que a sensação de estabilidade que eu tinha em Moçambique era falsa. De fato, fui eu mesma quem criou esta farsa. Os governos, as economias, as pessoas são instáveis em qualquer lugar do mundo. Como já relatei neste blog, o genocídio em Ruanda teve início apenas 24 horas após o assassinato do presidente daquele país. Me parece que, quando estamos em nosso país de origem, é mais fácil lidarmos com as instabilidades que possam ocorrer (e que, com certeza, ocorrem) pelo próprio sentimento de pertencimento a uma nação.

De qualquer maneira, quando estamos há tempos em um lugar, acabamos nos sentindo parte dele. Quando cheguei em casa, um rapaz moçambicano que presta serviços aqui no condomínio me saudou dizendo: “Bem vindos a sua segunda casa. Depois de tanto tempo aqui já devem se considerar moçambicanos, não é?” Respondi que sim. Estamos aqui há quase 2 anos, pagamos impostos, fazemos a economia crescer, oferecemos emprego e amparo a alguns membros da sociedade .... Sim. Somos, de certa forma, moçambicanos....

De fato, somos como aqueles primos do interior que vêm fazer faculdade na cidade grande e ficam na casa de uma tia por uns 3 ou 4 anos... no início somos apenas visita, mas com o passar do tempo acabamos nos sentindo mais em casa, dando opiniões na sistemática da família, reclamando da comida e, até mesmo, dando uns amassos na prima.


Links com notícias sobre os acontecimentos de 01 e 02 de setembro:


http://www.google.com.br/imgres?imgurl=https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYvgxAAW3ZuNwbC0hjUUhywAVWgKJxRM_cnAO7T-VSt2UH_yzSe2Mj7QFKHLKUrbwFS_8gSeEIf8MPeKvOy8VI9J7g_D7KPxesm85DHMIGM8BzS8W-_QFYA6KxBPlTtEEdaqt8zaIFM42W/s1600/maputo+5.jpg&imgrefurl=http://desigualdadedireitos.blogspot.com/2010/09/motim-nas-ruas-de-maputo-1-de-setembro.html&usg=__Aa68s62xdFUQsLG5FYXVQS8nEFo=&h=435&w=569&sz=77&hl=pt-BR&start=14&zoom=1&itbs=1&tbnid=FF7LhRO3fN2xsM:&tbnh=102&tbnw=134&prev=/images%3Fq%3Dmaputo%2Bsetembro%2Bmanifesta%25C3%25A7%25C3%25B5es%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DG%26gbv%3D2%26tbs%3Disch:1

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

VOLTAR PRA CASA !!!!???!!!

Quando voltamos para casa? Quando saímos de Tete rumo ao Brasil OU quando saímos do Brasil rumo a Tete? Difícil responder.

Depois de 6 meses apenas em África, passamos 32 dias no Brasil e, desta vez, as sensações foram diferentes. Saímos menos ansiosos do que das últimas vezes (se é que é possível sermos menos ansiosos em viagens internacionais). Os 32 dias passaram rápido, mas a sensação era que já estávamos ali há 40, 50, 60 dias devido, provavelmente, a agitação da cidade.

Londrina estava muito bonita. Parece que o novo prefeito está fazendo um bom trabalho. A cidade está organizada e já é uma grande metrópole, e, para aqueles que têm orgulho de serem ‘pés vermelhos’ como eu, foi muito bom retornar. A família estava bem, uns casando, outros engravidando, outros se formando. Os amigos pareciam felizes e envolvidos em seus trabalhos (só eu estava de férias!!!!). Novamente muitos prometeram dar um jeito de nos visitar no outro lado do Atlântico.

Como diz o cancioneiro popular: “Cada volta é um recomeço”. Por sorte, toda vinda pra Tete eu acabo na janela do avião. Por mais sorte ainda, sempre do lado certo, aquele no qual o Rio Zambezi começa a aparecer; aquele no qual dá pra ver de longe as savanas se transformando em cidade.

Beijos e abraços das vizinhas queridas (que fizeram bolos de boas vindas), os olhares de satisfação da Dona Rosa e Dona Quinedi (que literalmente refletem o medo da gente nunca mais voltar e deixar elas sem trabalho e sem dinheiro), a expressão de felicidade das crianças da cidade me vendo estacionar o carro próximo a padaria (provavelmente pensando: “Ela voltou ... pão e moedinhas estão garantidos”) são mais do que suficiente para que a gente se sinta em casa.

A primeira coisa que descobri ter sentido falta é do português moçambicano. Não consigo imitar, nem mesmo descrever, mas agora já me acostumei com a fala deste povo e passei a gostar do jeito que eles pronunciam as palavras. Preciso fazer uma gravação e guardar para a posteridade. Entretanto, ao tentar usar o celular, lembrei do que não senti saudade aqui ... a ineficiência da telefonia.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

DONA FÁTIMA E SUA PATROA

Quando uma família estrangeira se muda para Tete, para abrir um negócio ou trabalhar em algumas das empresas multinacionais, trazem para os habitantes da cidade novas possibilidades de emprego e esperanças de mudança. Em contrapartida, para as famílias estrangeiras, há o contato com o novo, o aprendizado sobre as diferenças culturais que ocorre, principalmente, no contato com os empregados da casa. É com eles e a partir deles que compreendemos o que é ser africano e podemos transformar realidades, mesmo que sejam de uma ou duas famílias.

Observo que estas mudanças ocorrem mais efetivamente em lares de famílias brasileiras. Talvez saibamos entender e aceitar melhor as diferenças e, como sabemos que estamos só de passagem, nos esmeramos para transformar a vida dos que estão perto de nós antes que irmos embora.

A história de Dona Fátima e sua patroa ilustram esta troca de experiências humanas. Nos cinco anos que estiveram juntas em Tete, a vida das duas mudou completamente. Dona Fátima aprendeu com sua patroa que não devia mais aturar o marido trazendo outras mulheres para dentro da própria casa, ela entrou com os papéis no governo e conseguiu um terreno para morar com os filhos. A patroa, que chegou casada, se separou. A pessoa que lhe estendeu a mão e cuidou dela nos piores momentos foi Dona Fátima.

Dona Fátima e patroa superaram as separações juntas, a patroa mudou para nova casa, Dona Fátima comprou os tijolos para construir a sua. Patroa arrumou novo emprego, Dona Fátima voltou a estudar. Patroa encontrou novo amor, Dona Fátima também. Patroa incentivava Dona Fátima e esta, além de terminar os estudos, tirou carteira de motorista de caminhão (com seus 1m50cm de altura). Por incentivo da patroa, Dona Fátima começou a ensinar os afazeres domésticos para as mulheres moçambicanas que, acostumadas a trabalhar nas machambas (lavouras), não tinham experiência em limpar, passar ou cozinhar. Dona Fátima se tornou uma professora dos afazeres domésticos e outras moçambicanas conseguiram emprego por causa da ajuda dela.

A patroa ajudou Dona Fátima a conscientizar-se e aprender a viver com o vírus da AIDS. Dona Fátima ensinou a patroa que mesmo no meio das adversidades um sorriso de orelha a orelha pode ‘salvar’ o dia de alguém. A patroa cuidou de Dona Fátima como se cuida de uma mãe. Dona Fátima cuidou da patroa como se cuida de uma filha. Ou seria vice e versa?

Quatro meses depois da volta definitiva da patroa para o Brasil, coube a mim ligar e contar a ela que Dona Fátima faleceu esta madrugada. De fato, depois que a patroa foi embora ela nunca mais conseguiu trabalhar. Na semana seguinte da ida da patroa, a saúde começou a piorar e dia após dia a AIDS vencia a batalha. Parece-me que ela esperava mesma a ida da patroa para se entregar ou  talvez ela mesma tenha sido pega desprevenida pelo avanço da doença. Os cinco anos da amizade de Dona Fátima e a patroa renderam frutos; hoje os três filhos órfãos têm um teto para dormir, o que significa muito na realidade moçambicana. Para a patroa, restam as lembranças e os ensinamentos de superação de Dona Fátima apontando que não há outro caminho a seguir a não ser em frente.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A VENDEDORA DE AMENDOINS (Imagem cedida por Silma Malacrida)

Fotografar é uma arte. É como contar uma história de vida a partir do clique de uma máquina fotográfica. Minha amiga Silma faz isto com perfeição. Ela capta a história e o sentimento das pessoas que fotografa. Vou tentar, a partir das imagens cedidas por ela, contar histórias de Tete e de seus habitantes. Sei que uma imagem vale mais do que mil palavras, mas cada pessoa  faz arte do jeito que consegue, eu só sei  (tentar) fazer através das palavras.

Esta é a uma das meninas mais lindas e mais simpáticas de Tete, a vendedora de amendoins. Lá estamos nós, esperando a ponte abrir e ela surge com seu sorriso inconfundível. A primeira vez que a vi, ela tinha os cabelos cobertos por pequenas contas coloridas e apesar de não gostar de amendoins comprei alguns apenas para vê-la feliz realizando seu trabalho. Quando comentei sobre ela com um dos brasileiros que trabalha em Tete, este respondeu: "Ahhh, a vendedora de amendoins .... sei ... todo mundo na empresa compra os amendoins que ela vende .... só para ver ela sorrir"

quarta-feira, 30 de junho de 2010

MAIS SOBRE O TRÂNSITO DE TETE

Quando eu digo que o trânsito de Tete é uma loucura, as pessoas acham que estou exagerando. Bodes, vacas, bois, galinhas, crianças, idosos, bicicletas lotadas de carga, chapas lotadas de gente, motos, caminhões são apenas alguns dos 'obstáculos' dos quais temos que desviar quando estamos dirigindo aqui.
Mas nada se compara a imagem abaixo.... Moçambicano levando a namorada para passear.... Brincadeira!!!! O povo se vira como pode...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

SE FUI POBRE, NÃO ME LEMBRO....

Só me lembro que fui convidada para O CAMAROTE DA FIFA no jogo BRASIL x PORTUGAL do último dia 25 de junho. Eta vida boa minha gente!!!! Tratamento VIP, comidinhas, ar condicionado, vinho, cerveja, tudo do bem e do melhor. Mas vamos relatar esta aventura desde o começo.
Acordamos as 4h30min da matina e fomos para o aeroporto de Maputo com nossos ingressos da arquibancada. No aeroporto,  já começamos a sentir  o clima da copa, todo mundo de verde e amarelo soprando as vuvuzelas antes mesmo do sol raiar. Havia também muitos portugueses com suas camisas vermelhas e seus narigões característicos. No voo para Durban já estava pensando que o Brasil não poderia perder, pois como era um voo charter, teria que encarar todos estes portugueses na volta pra Maputo.
Chegando em Durban, nos surpreendemos com a cidade. Fomos passear na praia e no Casino próximo ao estádio, nossos ouvidos ardendo com as vuvuzelas quando avistei o Ricardo Espinoza, radialista em minha cidade natal, no celular e acenei com a mão dizendo LONDRINAAAAAAAAAA... não é que ele estava transmitindo ao vivo e veio ao nosso encontro, colocou o telefone na minha boca e perguntou qual era meu nome ... foi muito engraçado. Fiquei imaginando como o mundo é pequeno e quem estaria ouvindo meu nome em Londrina naquele momento. Logo após, chega um amigo nosso com as boas notícias, tínhamos convites para os camarotes da FIFA, nem acreditei, que coisa mais VIP!!!!!
O Estádio Moses Mabhida em Durban é, sem dúvida, o mais bonito da Copa 2010. Parece um barco a vela.  Conforme fomos nos aproximando, todos ficamos de boca aberta. O mais legal é estar entre os brasileiros. Dá uma sensação de pertencimento, de reconhecimento de quem somos e de onde viemos. Nossa bocas continuaram abertas até chegarmos ao camarote, quando nosso queixo literalmente caiu ... buffet privê, garçonetes a nossa disposição, todas as bebidas e comidas que desejássemos .... foi demais.
Não preciso nem dizer que o jogo deixou a desejar. Joguinho de cumadre... os sul-africanos ficaram espantados de ver a torcida brasileira e seu comportamento não ortodoxo, inclusive duas malucas que ficaram de pé e gritando os 90 minutos do jogo em um dos camarotes da FIFA.  Oh... gente sem classe!!!! kkkkkkk.... O hino de guerra dos brasileiros era: O PORTUGUÊS, COMO É QUE PODE... A SUA FILHA TEM BIGODE!!!!!! e os portugueses não tinham outra opção a não ser rir.
Até que o empate foi bom, pelo menos a volta pra casa foi amistosa entre brasileiros e portugueses.
Adorei ir a Copa do Mundo!!!! É realmente uma festa maravilhosa.







sexta-feira, 28 de maio de 2010

VOO GUARULHOS - JOHANNESBURG

Meu marido não gosta muito de futebol (eu sei.... tirei a sorte grande). Aliás, não gosta e não entende muito. Esta semana ele estava no voo Guarulhos/Joburg. Veja a descrição dos acontecimentos:
"O voo atrasou pq as estrelas de tv estavam embarcando: ernesto paglia, a moça do globo esporte e eu nunca vi tanto cameraman junto. Eles todos se conhecem e o voo pareceu mais uma confraria do assunto mais culto e interessante do momento: a escalação do dunga. A dada altura não aguentei e disse: Conversei muito com robinho e ele está muito otimista, inclusive com a recuperacão do kaka (uahahah, nem sei se essa recuperacao eh do joelho, de uma noite c travecos ou se ele deu todo o salario pra igreja!!), mas foi um comentário contundente. Seguido de um: Com essa escalação de retranca, vai ser um jogo chato, alem de q a regra básica eh q quem nõo faz, leva! - percebi q analisar jogos de futebol pode ser fácil."
Ele não é uma graça? Parece que vai dar certo: JOGO BRASIL vs PORTUGAL em 25 de junho.... aí vamos nós!!!!!!!!!!!! 3 horas de avião até Maputo .... 8 horas de van até Durban!!!!

CROCODILOS MATAM 14 PESSOAS EM TETE

Maputo (AIM)- Pelo menos 14 pessoas morreram vitimas de ataques de crocodilos no distrito de Changara, província central de Tete, em Moçambique.

Acreditem se quiser... esta é a notícia 'completa' vinculada sobre morte de 14 moçambicanos no site do Ministério da Saúde de Moçambique. O que a notícia não explica é que, mesmo sabendo que há crocodilos nos rios, a população se 'aventura' a tomar banho e lavar roupa porque não tem acesso a água encanada em suas casas. Da mesma forma, a notícia não relata que os moçambicanos acreditam que os crocodilos atacam apenas as pessoas que foram amaldiçoadas por feitiços. Então, se ninguém te amaldiçoou com um feitiço, não há problemas em nadar nos rios.
Imagina se um estrangeiro, melhor, um brasileiro fosse morto por crocodilo. Depois da revolta, certamente a história ia virar piada. No mínimo a pessoa seria ponto de referência na família .... sabe aquela tia? Aquela que é mãe da nossa prima que morreu comida por crocodilo na África ..... eta morte mais sem classe.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

CERCADA PELA POBREZA

Quando me perguntam sobre como é morar em um país em que o índice de pobreza é tão elevado, eu costumo dizer que "a gente acaba se acostumando". Em  Moçambique, não há aquela coisa do Brasil de bairros pobres e bairros ricos. Uma mansão pode estar exatamente ao lado de uma palhoça onde não há água encanada ou qualquer tipo de conforto. O bairro onde moro não é asfaltado, em tempos de chuva, criam-se piscinas nas ruas que só caminhonetes 4X4 conseguem ultrapassar. Não há supermercados em Tete, a população compra comida em barracas nas ruas e para os visitantes, como nós, há apenas lojinhas que cobram um preço exorbitante porque sabem que os 'brancos' estão acostumados com aqueles produtos e podem pagar mais por eles. O 'sacolão/peixaria' é um local onde se aglomeram mulheres com os produtos de suas machambas, umas vendem, outras cozinham para todas e outras dormem no chão. É uma mistura de cores, cheiros e pessoas que atordoa quem não está acostumado. Mas a grande verdade é que, quando se vê a pobreza de perto todos os dias, ela passa a fazer parte do cotidiano, ela passa a ser parte do cenário. Entretanto, as vezes, acontecem coisas que são como um tapa na cara, coisas que nos tiram o chão e fazem com que, pelo menos por algum tempo, lembremos que pobreza não é algo com que se acostume, pobreza é infelicidade. Vou relatar alguns tapas na cara que levei aqui.

A FILHA DA EMPREGADA DA VIZINHA
Ouvi a vizinha comentando que sua empregada estava faltando ao trabalho há uma semana porque sua filha estava doente. Na semana seguinte, encontrei com a Sra em frente a minha casa e perguntei como estava sua filha. Ela disse que ainda não tinha se recuperado. A menina tinha o pescoço duro e não conseguia pender o pescoço para frente. O médico havia dito que era uma doença que começava com M, mas ela não se lembrava muito bem do nome. Quando ela disse isto, senti que fiquei pálida, ela deve ter reparado. Insisti que ela lembrasse o nome da doença e depois de muito pensar ela disse o que eu achava que ia dizer: MENINGITE. Acho que de pálida, fiquei rosa, ela reparou. Perguntei se ela sabia o que era meningite, quais os medicamentos que o médico havia receitado ... ela disse que a menina havia tomado umas pílulas de alguma coisa (provavelmente paracetamol, que é o medicamento que geralmente se dá nos hospitais aqui). Disse a ela que meningite era uma doença muito séria e que ia conversar com a patroa dela para que ela prestasse auxílio a criança. Isto era uma quinta, viajei na sexta, voltei no domingo. A criança havia morrido no sábado. Quando me contaram senti meu rosto ferver, como quem leva um tapa na cara. Hoje, após duas semanas ela voltou ao trabalho. Foi dar meus pêsames a ela. Sua filha tem a mesma idade do meu filho. O pior é que ela acredita em feitiços, nem o consolo cristão de que sua filha agora é um anjo a consola pois não é nisto que ela acredita.

AS ROUPINHAS DAS FILHAS DA DONA KINEDI
Quando cheguei em Moçambique, comprei algumas capulanas e cortei em pedaços para forras as gavetas dos armários. Um dia, encontrei plásticos para comprar e decidi forrar novamente as gavetas. Acabei guardando todos estes recortes de capulanas pensando que um dia poderia ser útil para alguma coisa. Em uma das faxinas, Dona Kinedi abriu esta gaveta e perguntou para que serviriam aquelas capulas. Respondi que não sabia se utilizaria novamente aqueles recortes, que, se ela quisesse poderia levar. É claro que ela levou. Pensei que faria uma toalha ou forraria algum móvel, sei lá. Em um dos meus passeios de bicicleta, acabei passando perto da casa da Dona Kinedi. Ela saiu correndo pra me apresentar os sete filhos. Quando olhei para as crianças, fiquei paralisada. Todas elas vestiam roupas feitas dos recortes das capulanas que um dia forraram as gavetas do armário. Dava pra ver que eram costuras precárias, mas fiquei comovida com o vestidinho da filha menor que tinha até babadinhos. De novo, senti meu rosto ardendo. Mas um tapa na cara oferecido pela pobreza e pela realidade Moçambicana.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

MÉDICOS SEM FRONTEIRA EM MOÇAMBIQUE - REVISTA VEJA / MARÇO 2010

VEJA Edição 2154 / 3 de março de 2010/ Medicina


Eles fazem diferença
Naiara Magalhães, de Maputo

Com criatividade, disposição para o trabalho e experiência no atendimento às doenças típicas das regiões pobres, os brasileiros ganham destaque na organização Médicos Sem Fronteiras e viram referência nas missões espalhadas pelo mundo

Com 20 milhões de habitantes, Moçambique, na costa oriental da África Subsaariana, é um dos mais preocupantes focos do vírus HIV em todo o mundo. Nos grandes centros, como a capital, Maputo, ou a cidade de Tete, a aids se faz presente em toda parte. Nas ruas, é raro cruzar com pessoas mais velhas. A expectativa de vida no país é de 47 anos para os homens e de 49 para as mulheres. Ao lado de outras doenças epidêmicas, os outdoors não deixam esquecer: "O que tiveste na tua última relação sexual: amor, sexo ou HIV?". Cartazes sobre cuidados com as crianças não reforçam apenas a importância da vacinação contra as afecções típicas da infância. Num deles, na legenda da fotografia de uma garotinha acompanhada pelos pais, lê-se: "Eu já vou fazer o teste do HIV". Um em cada sete adultos moçambicanos está contaminado – o equivalente a 15% dessa população. Em algumas regiões, como a de Maputo, o índice é de um em quatro habitantes. Para se ter uma ideia do tamanho da tragédia, no Brasil, a taxa de contaminação pelo HIV é de menos de 1%. Até pouco tempo atrás, muitos moçambicanos nunca haviam ouvido falar em aids. Para eles, seus parentes e amigos morriam vítimas de alguma feitiçaria. Ainda hoje é comum que os doentes recorram aos curandeiros na esperança de cura.

Em um país dilacerado pela miséria e por quase trinta anos de guerra encerrada apenas em 1992, a precariedade do acesso aos cuidados básicos de saúde e a falta de informação sobre prevenção e tratamento compõem o cenário ideal para a disseminação do HIV. Metade dos quase 100 000 mortos pela doença todos os anos tem entre 30 e 44 anos – está na plenitude produtiva. O país padece da falta de profissionais qualificados. O número de médicos em Moçambique não ultrapassa os 500. O de curandeiros, entretanto, supera os 70 000. Por isso, a ajuda estrangeira é crucial na luta contra a aids – tanto do ponto de vista financeiro quanto da mão de obra especializada.

A primeira e maior organização humanitária a desenvolver projetos de combate ao HIV em Moçambique foi a Médicos Sem Fronteiras (MSF), em 2001. Prêmio Nobel da Paz de 1999, a MSF foi fundada em 1971, por médicos e jornalistas franceses, e hoje conta com 27 000 profissionais, entre médicos, enfermeiros, psicólogos, arquitetos, administradores, economistas e engenheiros. Ela atua em 65 países conflagrados ou em situação de emergência sanitária (veja o mapa). Atualmente, a equipe da MSF em Moçambique é composta de 31 profissionais – sete dos quais brasileiros. Esses médicos e enfermeiras têm um perfil ideal para o trabalho desenvolvido pela instituição, porque ainda lidam por aqui com doenças típicas de países pobres, como tuberculose, malária e leishmaniose visceral. "No Brasil, muitos médicos não apenas estudaram tais moléstias como tiveram a experiência de tratá-las", diz Simone Rocha, diretora executiva da MSF-Brasil. Soma-se a isso o traquejo dos brasileiros para atender as populações mais carentes, de baixo nível educacional. "Eles sabem como transmitir uma mensagem de jeito simples para que o paciente consiga seguir o tratamento", diz o coordenador de um dos projetos da MSF em Moçambique, o enfermeiro inglês Christopher Peskett. Moçambique não é apenas o país com o maior número de brasileiros atuando na MSF, mas é também onde o Brasil faz escola.

Um dos projetos mais bem-sucedidos é o da médica paulista Raquel Yokoda, de 29 anos. O programa desenvolvido pela jovem vem ajudando a mudar um dos cenários mais cruéis da aids em Moçambique – o das crianças portadoras do HIV. Atualmente, 147 000 meninos e meninas de até 14 anos estão contaminados. As crianças entre zero e 4 anos mortas pela aids chegam a inacreditáveis 19% de todos os óbitos registrados pela doença. Com uma ideia extremamente simples, em seis meses Raquel conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil em 80% no Hospital Dia de Moatize, nos arredores da cidade de Tete, no centro do país. Ela transformou a sala de espera num lugar acolhedor para as crianças – uma espécie de brinquedoteca, decorada com motivos infantis. Com isso, ir ao médico passou a ser uma diversão para meninos e meninas que vivem em estado de miséria. Ajudada por moradores locais, Raquel adaptou histórias e jogos infantis à cultura moçambicana para explicar às crianças que elas são portadoras de uma doença que requer cuidados para toda a vida. Como o idioma oficial, o português, é falado por apenas 40% da população, as cartilhas de Raquel tiveram de ser traduzidas para o dialeto nhungue, característico da região.

Numa das histórias para as crianças de 5 anos, a aids é simbolizada pela mudança da cor do pelo dos leões. Doente, uma leoa vai atrás dos conselhos de um velho hipopótamo. O tratamento prescrito: a água de um mar vermelho, as folhas verdes das árvores e os raios de sol, todos os dias, para sempre. Ela morre, mas recomenda a seu filhote, o simpático leãozinho Bekhi, que siga à risca as orientações do sábio hipopótamo. Ele obedece e consegue crescer forte e feliz. "Os pais têm muita dificuldade para contar a seus filhos que eles são portadores do HIV, e que terão de seguir um tratamento até o fim da vida", diz Alain Kassa, coordenador-geral da missão da MSF em Moçambique. "O projeto de Raquel mudou esse processo, aumentando a participação das crianças no tratamento." As cartilhas da jovem médica servem hoje de referência em todos os países de atuação da MSF. "Nós só conseguimos fazer um bom trabalho quando entendemos e usamos a cultura local para nos aproximar dos pacientes", explica Raquel. Ela voltou para o Brasil no fim de 2007, e agora cabe à historiadora goiana Wânia Correia, de 33 anos, dar continuidade ao projeto.

Uma das grandes inspirações para Raquel foi Laura Lichade, enfermeira moçambicana de 56 anos, com quem trabalhou ao longo de sua estada na África. Durante a guerra civil, enquanto fugia de um tiroteio, Laura pisou no estilhaço de uma mina. Por causa das complicações do ferimento, em 1994, teve o pé esquerdo amputado. Apesar de todas as adversidades, ela se dedica a cuidar de 56 bebês, crianças e adolescentes órfãos. Seis deles vivem na casa de Laura, com paredes de barro e chão de terra batida. Os demais, em um orfanato próximo. Laura fez com que todos fossem testados para o HIV e recebessem o tratamento adequado. Em Moçambique, 1 milhão de crianças não têm mãe. Delas, 400 000 ficaram órfãs por causa da aids. "Costumo dizer às crianças com HIV que os remédios são como as minhas muletas, que me mantêm de pé", conta ela. "Se elas acharem que podem parar o tratamento porque estão se sentindo bem, cairão, como eu caio sem as minhas muletas."

Cerca de 70% dos moçambicanos estão nas áreas rurais. Vivem da agricultura de subsistência nas machambas, como são chamadas as pequenas propriedades agrárias. Os centros de saúde e os hospitais ficam longe e a condução de ida e volta é cara – 200 meticais, o equivalente a 12 reais. Curandeiros, por sua vez, há por toda parte. Um dos rituais mais comuns no caso de doentes graves é a tatuagem. São feitos cortes de meio centímetro de comprimento nos braços e pernas dos pacientes, e uma mistura de raízes trituradas é aplicada sobre os ferimentos. As lâminas são reutilizadas e os potes de ervas compartilhados entre várias pessoas. Ou seja, a tatuagem é fonte de disseminação do HIV.

Somente quando se dão conta de que as ervas e os banhos dos curandeiros não funcionam, os moçambicanos recorrem aos médicos. Algumas pessoas chegam a caminhar 15 quilômetros até o hospital mais próximo, muitas vezes descalças, sob temperaturas impiedosas. Ao circular pela área rural de Tete, no início de uma tarde de verão, tem-se a sensação de que há alguma queimada por perto. Mas não há vegetação em incêndio, apenas o sol que arde sobre a terra batida. Até resolver ir ao hospital, o militar aposentado Kaneti Chavunda, de 67 anos, sofreu durante quase um ano com uma tosse persistente e uma lesão dolorida nos pés e nas pernas – quadro característico do sarcoma de Kaposi, o câncer mais comum entre os soropositivos. De sua casa ao Hospital Provincial de Tete, ele viajou duas horas na boleia de um caminhão. Em 25 minutos, Chavunda recebeu o diagnóstico positivo para o HIV. Não demonstrou angústia nem desespero. Olhar parado, em voz baixa, ele comentou: "Vou fazer o que os médicos mandam". Essa é uma reação comum. Como a maioria das pessoas da zona rural, ele parecia não ter a dimensão da gravidade da notícia que acabara de receber.

Os testes rápidos de HIV e as orientações sobre prevenção e tratamento são conduzidos pelos chamados conselheiros – moradores locais treinados pela equipe da MSF. Dessa forma, os poucos enfermeiros e médicos disponíveis podem se dedicar a atividades de maior exigência técnica. Uma das enfermeiras responsáveis pela formação dos conselheiros é a paulista Eliana Arantes, de 33 anos, há nove meses em Moçambique. Um de seus parceiros de trabalho mais experientes é o local Felisberto Dindas, de 36 anos. Ele lembra com precisão a data em que entrou para a MSF, a fim de trabalhar como segurança: 23 de outubro de 2001. Naquele dia, sua vida mudaria em vários aspectos. A princípio, representava a conquista de um bom emprego. Um ano depois, Dindas foi convidado a se tornar conselheiro. "Eu tenho facilidade para me comunicar e conheço muita gente", diz, com orgulho. Foi também graças ao trabalho na MSF que ele foi diagnosticado como soropositivo. Conselheiros com o perfil de Dindas são sempre bem-vindos. Só quem tem o vírus sabe como é receber a notícia do HIV. Só quem vive em Moçambique conhece as dificuldades de seguir o tratamento. Só quem consegue conviver com a infecção, sem cair doente, é capaz de passar a importância da prevenção e do tratamento.

A precariedade do sistema de saúde em Moçambique é aterradora. Acompanhar um dia de trabalho da enfermeira paranaense Janaína Carmello é recuar meio século na história da medicina. Aos 28 anos, ela é responsável pelo atendimento a grávidas no Centro de Saúde de Domué, na zona rural do distrito de Angónia, no noroeste do país. Sua principal missão é diminuir os riscos da transmissão vertical: a contaminação do bebê por sua mãe. Em suas consultas, não há aparelho de ultrassom ou sonar. A enfermeira tem de trabalhar com a fita métrica e o estetoscópio de Pinard. A fita serve para medir a barriga da mãe e calcular a idade gestacional do feto, já que a maioria das gestantes não tem ideia de quando engravidou. Em geral, elas só procuram assistência médica no sexto mês de gravidez. O estetoscópio, desenvolvido no início do século XIX, que Janaína só conhecia dos livros de história da medicina, é usado para medir os batimentos cardíacos do feto. Janaína encosta a boca do instrumento na barriga da gestante, aproxima o ouvido na outra ponta do estetoscópio e ouve o coraçãozinho na barriga da mãe. Enquanto nos países desenvolvidos uma mãe soropositiva é desaconselhada de amamentar seu bebê, de modo a reduzir o risco de infecção da criança, em Moçambique Janaína recomenda que o aleitamento materno seja feito até os 6 meses. "Aqui, as mães não têm condições mínimas de higiene para preparar o leite artificial, ainda que você o forneça. As crianças ficam com diarreia, perdem peso, adoecem e podem até morrer", diz ela. Ainda assim, quando as mulheres soropositivas seguem o tratamento à risca, a transmissão vertical do HIV é reduzida.

É dessa forma, com pequenas vitórias, que se trava o combate contra a aids em Moçambique. Desde a chegada da MSF, o número diário de novas contaminações caiu de 500 para 440. Pode parecer pouco, mas é uma grande conquista em se tratando de um país da África Subsaariana. E os brasileiros, como Raquel, Wânia, Eliana e Janaína, fazem a diferença em um universo tão esquálido.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

LAGO NIASSA/ LAKE MALAWI

O Malawi é um país longo e estreito praticamente encravado entre Moçambique, Zâmbia e Tanzânia. Um dos seus maiores atrativos turísticos é o Lake Malawi com aproximadamente 600Km de comprimento na fronteira leste do país. O lago é o terceiro maior da África e pode ser visto a olho nu por astronautas em órbita.
Saímos de Tete as 5h30 da matina e seguimos para o Malawi. Após 4 horas de viagem, chegamos a fronteira e enfrentamos o costumeiro abuso que os turistas brancos sofrem em alfândegas africanas. Tudo bem, já estamos nos acostumando. Mais 1 hora e começamos a vislumbrar um cenário realmente surpreendente de montanhas. Mais 1 hora e chegamos ao Cape Maclear, um dos refúgios para turistas.


Encontramos nosso lodge e ficamos ainda mais surpreendidos com a  beleza do local. No dia seguinte, saímos em um barco com nossos guias e nos aventuramos pelo lago fazendo snorkelling e vendo peixes das cores mais variadas. De fato, uma peixão foi o nosso almoço preparado por um dos nossos guias em uma das ilhotas do lago. Tudo bem que ficamos com medo da comida quando vimos as panelas e os pratos, mas abençoamos tudo em nome de Jesus e mandamos ver.... estava uma delícia. Depois do almoço, na volta para o lodge, os guias pararam perto de algumas árvores e começaram a assobiar. Ouvimos uma resposta. Um dos guias jogou um peixe próximo ao barco e do meio da mata surge uma águia aplainando no ar como se estivesse em câmera lenta. Ele pegou o peixe e voltou para a mata. Foi inacreditável, a beleza daquele pássaro. No dia seguinte, andamos de caiaque, nadamos no lago, tivemos até uma bandinha local de crianças cantando pra nós. E o pôr do sol.... lindo!!!!! Foram três dias muito especiais.

CURIOSIDADE: Há uma disputa em relação ao nome do lago. Como pode-se ver no mapa, Moçambique e Tanzânia fazem divisa com Malawi pelo lago e nestas regiões ele é conhecido como Lago Niassa. É claro que todos os países querem ter um pedacinho desta maravilha. Quem não ia querer?

terça-feira, 11 de maio de 2010

'ILHADOS' NO NORTE DE MOÇAMBIQUE


NOTÍCIAS EM 04/05/2010


Avaria nas telecomunicações "parou" centro e norte do país
A avaria da rede de comunicações de fibra óptica que ocorreu há uma semana continua a afectar as regiões centro e norte de Moçambique e a impedir o funcionamento normal das instituições e empresas. Não há comunicações de voz e de dados seguras e já se sente uma enorme perturbação em quase todos os sectores, designadamente bancos.
O cabo de fibra óptica está danificado a cerca de 110 km. de terra e 35 metros de profundidade, entre Vilanculos, na província de Inhambane, e a cidade costeira da Beira.
O corte no cabo, que ainda não foi explicado devidamente como terá ocorrido, paralisou os serviços telefónicos e de internet. Os bancos não conseguem fazer operações. O sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) está também fora de serviço. Os funcionários do Estado ainda não receberam os seus salários. “Esta situação parou a vida de muita gente. Foi exactamente no momento em que estavam a ser processados os salários que o SISTAFE parou de funcionar. Estamos dependentes do sistema, caso contrário vamos ter que passar fome”, disse à agência noticiosa portuguesa Marcelino Sucutai, funcionário da Migração, de acordo com um despacho da Lusa em Lisboa.
De acordo com o órgão português a avaria atinge também os comerciantes: “As vendas baixaram muito. Estamos quase sem clientes esta semana, porque as pessoas não podem comer sem dinheiro”, explicou José Mateus, sub-gerente do centro social da empresa Telecomunicações de Moçambique (TDM) em Manica. “Nós inclusive ainda não temos salários porque os bancos não podem processar cheques”. Marcelino Luís, vendedor no mercado Josina Machel, em Chimoio, capital da província, disse ainda à Lusa que “a avaria trouxe um grande prejuízo, porque as vendas baixaram tanto esta semana que já não consigo sustentar as cinco pessoas que dependem deste negócio”.
Algumas caixas automáticas (ATM) dos bancos com representação na província de Manica começaram a “ressuscitar” ao fim do dia de sexta-feira mas as dependências não estão a efectuar transacções com cheques devido à avaria. Três equipas de técnicos das províncias de Maputo, Sofala e Manica têm estado a trabalhar em Chimoio, para minimizar o problema, procurando vias alternativas para retomar os serviços básicos. “Estamos ainda a trabalhar, para pelo menos dentro do possível retomarmos os serviços básicos, as ATM, Internet e o SISTAFE. Quanto ao telemóvel pelo menos activar o serviço de SMS enquanto aguardamos o serviço de voz depois da reparação da avaria”, disse à Lusa Jimo Mabanga, director da TDM para a área operacional de Chimoio.
A Mcel só tem estado a ser útil na transmissão de mensagens (sms). A Vodacom, a outra operadora de telefonia móvel existente em Moçambique tem estado a prover o serviço de voz, usando comunicações por satélite como meio alternativo. As TDM, a empresa de telefonia fixa e que opera a fibra óptica, está totalmente fora de serviço nas comunicações com subscritores a norte de Vilankulo.
Refere a Lusa no seu despacho que o funcionamento da rede Vodacom está a gerar oportunismo entre os revendedores, sobretudo informais, dos pacotes iniciais e recargas, que triplicaram de preço, passando dos anteriores cinco meticais (12 cêntimos do Euro) para 15 a 20 meticais (36 a 48 cêntimos do Euro).
As Telecomunicações de Moçambique (TDM) ainda não explicaram o que terá originado a avaria. Há informações segundo as quais o cabo foi cortado por um arrastão de pesca mas especialistas duvidam que seja possível por arrasto rebentar-se um cabo de fibra óptica “plantado”no fundo do mar.
As TDM já anunciaram que não terão possibilidades de repor a normalidade das comunicações antes de quatro semanas. (Redacção / Lusa)
CANALMOZ – 04.05.2010


NOTÍCIA EM 11/05/2010


Reparada fibra óptica da TDM
A FIBRA óptica da TDM, que sofreu um corte no troço entre Vilankulo e Beira, provocando a interrupção nas comunicações de voz, dados e internet, nas zonas Centro e Norte do país, desde 26 de Abril, foi reparada domingo passado, segundo um comunicado daquela empresa ontem recebido na nossa Redacção.
Maputo, Terça-Feira, 11 de Maio de 2010:: Notícias
Com uma previsão inicial para a reparação do dano fixada em quatro semanas, foi possível concluir-se o trabalho em menos tempo, duas semanas, devido ao facto de ter sido localizado um fornecedor de serviços, cujo barco se encontrava a realizar trabalhos de reparação de um outro cabo no Oceano Índico, nas proximidades da costa moçambicana e que se prontificou a realizar a operação no cabo da TDM. Recorde-se que o corte no cabo submarino da fibra óptica localizava-se no alto mar, há 110 quilómetros de Vilankulo e a 35 metros de profundidade. Entretanto, a TDM continua a desenvolver o projecto de redundância da fibra óptica, cujo troço entre Maputo e Beira estará concluído em Julho deste ano, advindo daí uma maior fiabilidade nas comunicações, pela existência de rotas alternativas.

Só tenho algo a declarar.... NINGUÉM MERECE!!!!!!!!!!!!!!!!!! Sem internet, sem celular, sem dinheiro, sem contato com amigos e familiares!!!! Eta...fim do mundo!!!!

sábado, 24 de abril de 2010

NOTÍCIAS DO PAÍS DA COPA

Líder de grupo de extremista morto na África do Sul descarta conflito racial


Publicada em 05/04/2010 às 16h47m
Lancepress


Apesar de declarações nada amistosas de representantes do grupo extremista que era liderado por Eugene Terre'blanche, as ameaças de um conflito étnico na África do Sul foram minimizadas pelo mais importante integrante do 'Movimento de resistência Africâner' (AWB) nesta segunda-feira. Pieter Steyn, uma espécie de general do AWB, afirmou:
- O AWB não vai cometer nenhuma retaliação violenta para vingar a morte de Terre'blanche - declarou.
Eugene Terre'blanche, líder branco de extrema-direita sul-africano, foi morto por dois negros que usaram uma barra de ferro para cometer o crime. O motivo do assassinato foi, segundo a mãe de um dos criminosos, um adolescente de 15 anos, o não pagamento de um serviço feito por eles na fazenda de Terre'blanche ( clique aqui para saber mais ).
Representantes do movimento de resistência liderado por Terre'blanche chegaram a fazer ameaças aos negros, logo após o crime. O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, condenou o assassinato e pediu calma aos sul-africanos ( leia mais aqui ). Zuma quer 'harmonia' entre os povos e que ninguém se aproveite do assassinato para incitar o ódio entre raças.

http://oglobo.globo.com/esportes/copa2010/mat/2010/04/05/lider-de-grupo-de-extremista-morto-na-africa-do-sul-descarta-conflito-racial-916248628.asp
 
A notícia acima, vinculada pela globo.com, nos leva a considerar que a África do Sul está preparada para receber a copa sem que os conflitos étnicos causem problemas à segurança do país. Entretanto, conversando com um amigo ontem, ele relatou que conhecidos residentes na África do Sul estão assustados com a repercussão do assassinato do ex-líder da AWB e que a população está apreensiva.
Espero que não haja nenhum confronto durante os jogos, mas convenhamos, a Copa seria um momento propício para qualquer grupo que quer 'ser reconhecido' mundialmente armar uma situação de exposição. Tomara que a segurança da FIFA esteja preparada.
Queria muito assistir ao jogo BRASIL x PORTUGAL em Durban no dia 25 de junho. Mas acho que não vai dar. Além dos preços exorbitantes dos ingressos, teríamos que ir a Maputo e seguir para Durban. Passagens aéreas estão caras, os aeroportos estarão lotados, não há mais hotéis disponíveis em Durban. De ônibus, seriam 12 horas de Maputo para Durban considerando a demoradíssima alfândega que deverá estar lotada nos dias que antecedem os jogos.
É acho que não vai dar ... mas a esperança é a última que morre.... quem sabe!

terça-feira, 20 de abril de 2010

PARAÍSO NA TERRA

Paraíso na Terra pode significar coisas muito distintas para pessoas diferentes. Pode ser um momento, um reencontro com um amor antigo, o nascimento de um filho, a descoberta de uma cura. Pode ser uma refeição, com os cinco pratos de uma experiência à francesa, um churrasco com cerveja na beira da piscina, uma tigela de xima comido a mão sob a sombra do baobá. Pode ser uma bolsa de estudos, uma proposta de emprego, uma noite de sexo ardente, um tratamento médico eficaz, uma massagem indiana, uma carona em dia de sol forte. Como disse, o Paraíso na Terra pode ser tantas coisas, para tanta gente.
Mas se o Paraíso na Terra fosse um lugar, diria que a Ilha de Bazaruto pode ser uma unanimidade por muitos motivos. Talvez pela água cristalina na qual a luz do sol penetra formando uma espécie de rede mágica. Talvez pelos corais onde circulam peixes coloridos. Pela privacidade, pelo silêncio, pela tranquilidade e pela elegância de se andar de pés descalços na areia fina. Talvez seja o Paraíso na Terra por causa do mar que é indescritivelmente belo em seus vários tons de azul e verde e pelos contornos que a areia branca desenha de acordo com as marés.  E o pôr do sol !!!!! O pôr do sol é um espetáculo de cores começando com o amarelo intenso, cercado de laranja e dourado que se transformam em frente dos seus olhos em diferentes tons de azul, rosa, vermelho e roxo. É inacreditavelmente belo.
Estar no Paraíso na Terra é revigorante e nos faz lembrar de quem amamos, de nosso lugar neste planeta, neste universo. Nos faz lembrar de Deus. Todos deveriam ter a chance de experimentar!!!!!!!!!!!!
Estas fotos abaixo foram tiradas por mim em uma máquina fotográfica com  poucos recursos. Não têm photoshop.... e mais.... não fazem jus a beleza do lugar.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

INVICTUS

Todos já ouvimos falar de Nelson Mandela, ex-líder rebelde e presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Mandela é um dos principais representantes do movimento anti-apartheid na África do Sul como ativista, sabotador e guerrilheiro.
Considerado um terrorista pelo governo sul-africano na década de 60, passou quase 30 anos na prisão. Sua libertação foi o marco da quebra do movimento separatista e o fez conhecido e premiado mudialmente por ser um guerreiro da liberdade.
O filme INVICTUS  retrata o período em que Nelson Mandela (Morgan Freeman) sai da prisão (1990) e torna-se presidente. Na tentativa de diminuir a segregação racial na África do Sul, Mandela apoia o time de rugby (esporte popularizado pelos brancos sul-africanos) no torneiro mundial que ocorreria naquele país. O time não vinha apresentando resultados satisfatórios durante os campeonatos, mas Mandela manteve seu apoio incondicional ao time agindo em parceria com o capitão, o jogador Francois Pienaar (Matt Damon).
A partir do filme, compreendi melhor o fascínio do mundo por Nelson Mandela. De fato, ele é um grande líder e um grande estrategista que sabe mobilizar as pessoas e a mídia a partir de suas estratégias. Bom, creio que todos os grandes líderes tenham estas habilidades.... até mesmo Hitler era um grande líder... Mas Mandela usou estas habilidades para estabilizar seu país e recuperar a auto-estima daqueles que foram segredados impedindo que estes fizessem o mesmo com seus antigos opositores. Ele pregou a tolerância e a união (como no slogan do time de rugby ONE TEAM, ONE COUNTRY) e foi bem sucedido em sua empreitada, firmando a África do Sul como um país economicamente viável e a caminho do progresso.

INVICTUS é também o título de um curto poema escrito por William Ernest Henley em 1875. Confiram a seguir:
 
INVICTUS
 
Out of the night that covers me, / Do fundo desta noite que persiste
Black as the pit from pole to pole, / A me envolver em breu - eterno e espesso,
I thank whatever gods may be / A qualquer deus - se algum acaso existe,
For my unconquerable soul. / Por mi’alma insubjugável agradeço.

In the fell clutch of circumstance /  Nas garras do destino e seus estragos,
I have not winced nor cried aloud. / Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Under the bludgeonings of chance / Nunca me lamentei - e ainda trago
My head is bloody, but unbowed. / Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Beyond this place of wrath and tears / Além deste oceano de lamúria,
Looms but the Horror of the shade, / Somente o Horror das trevas se divisa
And yet the menace of the years / Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Finds and shall find me unafraid. / Não me amedronta, nem me martiriza.

It matters not how strait the gate, / Por ser estreita a senda - eu não declino,
How charged with punishments the scroll, / Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
I am the master of my fate: / Eu sou dono e senhor de meu destino;
I am the captain of my soul. / Eu sou o capitão de minha alma.

TAVA DEMORANDO!!!!!! NOTÍCIAS DA COPA

Notícia publicada em 5/4/2010 às 15:25  LANCEPRESS!
Conflitos étnicos ameaçam Copa do Mundo
Assassinato de líder extremista pode estourar conflito
Eugene Terre'blanche era um dos principais defensores do apartheid (Crédito: Reuters)

O assassinato de um líder extremista na África do Sul pode estourar um novo conflito étnico no país. Morto por funcionários negros no sábado, Eugene Terre'blanche era um dos principais defensores do apartheid - movimento de segregação racial. Seus seguidores já prometem vingança, mas descartaram, e alertam os estrangeiros que vão ao país durante o Mundial.
Não enviem seus times de futebol para esta terra de assassinos, não façam isso se vocês não tiverem proteção suficiente para eles - avisou Andre Visagie, também extremista, que considerou o fato uma declaração de guerra de negros contra brancos.
De acordo com a polícia, Terre'blanche foi espancado até a morte pelos funcionários por problemas de salários. O partido do extremista promete vingança, enquanto o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, pede calma. Ele não quer ver provocações que alimentem o ódio racial no país às portas da Copa.
O líder da ala juvenil do partido no poder, Julius Malema, foi acusado de inflamar os negros com discursos e um cântico entoado na época do apartheid, que dizia "morte ao boer, morte ao fazendeiro". "Boer" é a forma que a população "afrikaner" branca é conhecida.
O partido de Terre'blanche ligou o assassinato ao cântico. Conflitos étnicos não passam de ameaças, mas a tensão racial já é evidente na África do Sul.

quarta-feira, 31 de março de 2010

MINHAS AMIGAS DO ZIMBABWE

Desde quando cheguei aqui, há um ano atrás, fiz amizade com a mãe de uma das crianças da escola. Ela é uma mulher negra muito bonita, do zimbabwe, casada e com dois filhos lindos (uma menina de 10 e um menino de 2 anos). Tenho uma admiração especial pela sua filha, uma menina madura, inteligente, líder por natureza, que deixa os meninos, sempre mais imaturos, no 'chinelo'. O menino dela me adora, todo vez que me vê, ergue os braços, sai correndo e se joga pra cima de mim.
Aos poucos fomos ficando mais íntimas até que no final do ano passado ela me contou sua história com o marido. Ela o conheceu com 19 anos, casou-se e os maus tratos começaram. Depois da filha nascer, se separou, ficou na casa dos pais por 4 anos e, conforme ela mesmo disse, num momento de insanidade, se rendeu aos pedidos do ex-marido e aceitou a reconciliação.
Vieram para Moçambique e ela teve o segundo filho. Adivinha??? .... Os maus tratos recomeçaram.  Ela não podia ter amizades, a filha não podia ir ou voltar da escola com meninos dentro do carro, o dinheiro era contado (ele só entregava o suficiente para compras e queria ver os recibos), os passaportes foram trancados. A sorte era que o trabalho exigia que ele viajasse muito, o que era um alívio para todos.
Até então, eu tentava não me envolver. As diferenças culturais são muito grandes. Como eu poderia dizer a ela o que diria para uma amiga brasileira, sendo que todas as minhas amigas tem uma profissão, são independentes financeiramente do marido? Tinha medo de colocar idéias em sua cabeça que depois poderiam se voltar contra ela. Meu marido sugeriu que dissesse a ela pra envenenar a comida dele, pois com o sistema de saúde daqui, ninguém nunca saberia. Mas é claro que eu não disse isto a ela, apenas disse que estaria lá se ela precisasse de alguém pra conversar, de dinheiro, de abrigo, de ajuda com as crianças ... que ela poderia contar comigo. Disse que ela deveria ter em mente que seu marido tinha problemas psicológicos sérios e que ela não podia acreditar nas coisas que ele dizia a ela, não podia acreditar que não sobreviveria sem ele, que era uma perdedora. Disse também que ela deveria contactar sua família (mãe, dois irmãos solteiros) e começar a se planejar seu futuro com calma, porque nestas horas só nos resta a família, como sempre.
Sexta-feira passada, seu marido a espancou. Começou na mesa de jantar, com uma cadeira, ela tentou fugir pra fora e ele continuou espancando-a no jardim. Ela gritava por ajuda, os vizinhos vieram até o murro, mas não fizeram nada. Na segunda-feira a tarde, no meu turno para trazer as crianças da escola, reparei que a menina estava mais quieta que o costume e quando perguntei a ela como estavam as coisas, ela me contou tudo chorando e dizendo que ela tinha pedido pro pai parar, mas ele não ouvia.
Ontem, finalmente conversei com minha amiga. Ela tinha planos de ir ao Zimbabwe encontrar o irmão na fronteira e se juntar a sua família que agora se encontra na África do Sul. Disse que ligaria para o irmão de madrugada e resolveria tudo. Disse que a sua filha falava muito sobre mim em casa, o que deixava o marido irritado. Disse que, se algum dia, o marido perguntasse se eu sabia de alguma coisa, eu deveria negar; para minha própria segurança.
Há duas horas, eu acordei com a menina batendo aqui em casa. Veio devolver os livros que eu tinha emprestado a mãe. Disse que as malas já estavam no carro e que o pai levaria todos eles a fronteira do Zimbabwe para encontrarem o tio. Como é forte esta menina, ela fala com tanta firmeza, mas seus olhos não mentem ... eles transparecem a decepção de deixar os amigos, a escola, a casa e rumar para um destino indefinido. Ela sabe que é o melhor a fazer, ela sabe que não há outra saída, mas ela é apenas uma criança.
Dei dois terçinhos a ela, disse que era um pra ela e um pra mãe... para que se lembrassem sempre de mim e rezassem quando precisassem de alívio. Dei a menina os dólares que tinha em casa. Disse que escondesse na calça e só entregasse a mãe no Zimbabwe. Ela sorriu agradecida. Coloquei a menina na caminhonete e levei ela pra casa. Na garagem, vi o porta-mala do carro lotado de malas. Dei adeus a minha amiga, bom, na verdade, as minhas duas amigas: a mulher/adulta  e a mulher/criança. De fato, não vi diferença ao sentir o medo das duas diante do novo e do incerto.
Neste momento em que escrevo, peço a Deus por elas. Peço que este homem as levem com segurança, que não tenha nenhum surto no caminho. Peço a Deus que os irmãos prosperem e tenham condições de ajudá-las. Queria uma máquina do tempo para ver o futuro. Minha amiga mulher/adulta com um bom emprego e um homem que seja generoso com ela. Minha amiga mulher/criança crescida, advogada, juíza, engenheira. Mas principalmente queria ver que elas superaram estes acontecimentos, que elas amam alguém e que são amadas por este alguém. Queria ir pro futuro e ver que esta decisão que tomaram veio na hora certa, transformou suas vidas e que elas estão bem.

terça-feira, 30 de março de 2010

SEMPRE É BOM LEMBRAR QUE ...

TUDO SÃO MANEIRAS DE VER (Fernando Pessoa)


Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.


Onde você vê um motivo pra se irritar,
alguém vê a tragédia total
e o outro vê uma prova para sua paciência.


Onde você vê a morte,
alguém vê o fim
e o outro vê o começo de uma nova etapa...


Onde você vê a fortuna,
alguém vê a riqueza material
e o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.


Onde você vê a teimosia,
alguém vê a ignorância,
um outro compreende as limitações do companheiro, percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo e que é inútil querer apressar o passo do outro, a não ser que ele deseje isso.

Cada qual vê o quer, pode ou consegue enxergar.
Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura.

terça-feira, 23 de março de 2010

AS BELEZAS DE MOÇAMBIQUE - LITORAL

Estava tentando criar um roteiro de lugares a visitar em Moçambique, principalmente no litoral moçambicano que é um dos mais lindos e pouco explorados do mundo. 

Até agora, só conhecemos a praia de Bilene, próxima a Maputo. No mês de abril, pretendemos conhecer mais uma, mas são tantas opções maravilhosas que ficamos na dúvida.

A propósito, no mapa ao lado dá pra ver que Tete é mesmo nos confins de Moçambique ... longe de tudo!!!!!
Confiram algumas opções no litoral:

Bazaruto Island is a paradise waiting to be discovered. The island of Bazaruto is approximately 37km long and 7km at its widest point. Bazaruto is a beautiful holiday destination and is the perfect place to relax and get away from it all. The impressive beauty of the surrounding coral reefs is enriched by the stunning diversity of the tropical fish. Bazaruto is one of the best spots for catching marlin, kingfish and other large game fish.

Inhaca Island is situated about 40km off the coast of Maputo. Like so many of Mozambique Islands, it is a natural paradise of breathtaking beaches and coral reefs. A favorite destination for South African divers and snorkellers, particularly at Santa Maria or the lighthouse. Inhaca Island is easily accessed by ferry, or via a 20 min flight from Maputo.

Ponta do Ouro is the southern most point on the Mozambican coast. The easiest entry is through Kosi Bay border post and Ponta do Ouro is 15kms from the border. There are many dive sites and coral reefs. Ponta do Ouro is a tourist destination to please any person interested in scuba diving, deep sea fishing, snorkelling, swimming on white sand beaches.

Located on the shores of the Indian Ocean, Vilanculos offers accommodations and restaurants in a rustic style. The night life is alive and well offering music and drink through out the night at the local discotheques. The airport is open to medium size aircraft, and ground transportation is available.

São tantas opções!!!!!!!!!!!!! Confiram a imagem abaixo e fiquem com água na boca!!!!!!

domingo, 21 de março de 2010

DONA KINEDI, UMA FIGURA!!!!

Dona Kinedi, se é que este é seu verdadeiro nome, é uma figura impagável. Ela está trabalhando em minha casa substituindo a Dona Rosa que está cuidando do bebê. Quando ela chegou aqui há algumas semanas atrás, a Dona Rosa foi ensinando o trabalho pra ela. Nesta ocasião eu perguntei o nome dela e ela respondia algo que eu não entendia .... perguntei de novo e de novo... perguntei pra Dona Rosa e ela disse que não tinha entendido também. Já estava envergonhada de perguntar... até quando uma das vizinhas veio aqui em casa me visitar, pedi pra ela perguntar o nome dela, mas ela também não entendeu. Por fim, pedi pro meu marido perguntar o nome dela e ele disse que acha que seria Kinedi... então ficou Kinedi mesmo.
Na primeira semana ela só dizia uma palavra . Lá estava eu concentrada no meu computador e ela chegava quietinha e falava . Ai que susto... esta mulher quer me enfartar. Eu pensava, o que? Depois descobri que era o modo dela dizer que já tinha acabado.... só que cada quarto, cada banheiro que ela limpava, ela vinha e falava e eu tinha que mostrar o próximo passo. Agora ela melhorou .... só fala na hora de ir embora.
Bom, as perguntas na forma negativa são um problema.... mas daí é culpa minha, porque eu já sabia disto. Quando brasileiros fazem alguma pergunta aos moçambicanos é melhor evitar a forma negativa, por exemplo, um dia cheguei e perguntei: Dona Rosa não chegou ainda? Ela respondeu: Sim ... Entrei em casa e não achei a Dona Rosa... Voltei e perguntei: Dona Rosa chegou ou não chegou? Ela ficou confusa .... Daí perguntei: Dona Rosa veio trabalhar? Ela respondeu: Ainda .... Dai eu cai na risada e ela também .... Eu disse: Aaahhh, acho que a Dona Rosa está atrasada, certo? Ela disse: Sim.
Um dia destes ela chegou pra mim e disse: 'Quero lisole'. Pensei... Ai Jesus, o que será que esta mulher tá falando? Será que ela quer risoles? Aquele salgado com recheio? Bom, ela ficou repetindo e eu não entendendo.... Pedi pra ela chamar o Seu Justino, funcionário aqui do condomínio. Ele foi nosso tradutor e me explicou que ela gostaria de saber se eu poderia dar um lençol para ela .... tipo, dar um dos lençóis da minha casa pra ela levar pra casa dela. Aaaaaaaaahhhhh então não era risoles o que ela queria.... Dei o conjunto de lencóis pra ela... e fiquei morrendo de vontade de comer um risoles.
Mas, com certeza, Dona Kinedi é um pessoa com iniciativa. Tenho um tapete na sala que custou uma fortuna. Meu marido quase me matou quando soube o preço do tapete. O tapete precisa ser limpo com certa regularidade porque é claro e tem que ser limpo com escovinha, ajoelhada ... uma coisa trabalhosa. Cheguei em casa um dia e peguei a Dona Kinedi lavando o tapete no quintal... lavando mesmo... tipo jogando água .... Olhei e pensei... Ai meu Deus, perdi o meu tapete dos milhões... Dei um sorrisinho, entrei em casa e entreguei o destino do tapete ao acaso... foram 4 dias tomando sol africano de 45 graus pro tapete finalmente secar.  Ele nunca será o mesmo... mas ainda cumpre o seu papel... e ficou limpo.
Sabia que ela tinha um  menina com menos de um ano, mas ontem fiquei sabendo que ela tem 40 anos e 7 filhos .... Ela me disse: 7 filhos... com o sorriso mais calmo do mundo. Ontem estava jogado um resto de salada de fruta fora porque já tinha azedado... quando ela me viu colocando as frutas cortadas em um saquinho separado para depois pôr no lixo grande, ela pediu pra levar a salada de fruta pra casa .... eu disse que não, que estava passada, azeda, que faria mal a ela e a seus filhos ... mas ela insistiu, disse que se eu permitisse ela queria muito levar. E levou ... porque meus argumentos não foram suficientes para convencê-la.
Admiro a Dona Kinedi, admiro sua força, sua determinação, sua pontualidade, seu comprometimento com o trabalho e sua vontade de aprender. Admiro todas as mulheres africanas que encaram suas dificuldades e seguem em frente com suas vidas!