quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Visitando as escolas em Tete


Logo depois que cheguei em Tete, comecei a participar de alguns encontros do Fórum de Parceiros na qual foi criada uma Comissão de Ensino e Formação da Província. Em um destes encontros, decidiu-se que seria interessante fazer um cronograma de visitas a algumas instituições de ensino na cidade para conhecer a realidade em loco e sugerir possíveis intervenções da Comissão. Me ofereci a participar das visitas e lá fomos nós .... eu ao volante (perigo constante !!!! ainda mais com tração nas 4 rodas), a colega Adriane ao meu lado e o Sr Kambanizithe (funcionário da Direcção Provincial) dando os direcionamentos ..... nos aventurando pelos bairros de Tete.

Primeiro tive que entender como funciona o currículo moçambicano. A Educação Básica em Moçambique é composta por 7 classes organizadas em 2 graus. O 1º. Grau está divido em 2 ciclos, sendo o 1º Ciclo correspondente às 1ª e 2ª classes e o 2º. Ciclo correspondente às 3ª, 4ª e 5ª classes. O segundo grau corresponde as 6ª e 7ª classes. Por sua vez, o ensino secundário moçambicano compreende as 8ª., 9ª., 10ª., 11ª e 12ª classes.

Visitamos as seguintes instituições: Escola Industrial Dom Bosco, Escola Industrial de Tete, Escola Primária Completa Josina Machel, Escola Secundária de Tete, Escola Primária e Secundária Mateus Sansão Mutemba e Centro de Formação de Saúde. Em cada uma delas, vivenciamos realidades diversas. Conhecemos instituições com excelentes cursos e infra-estrutura; resultante de um gerenciamento eficiente dos amplos recursos vindos do exterior. Por outro lado, conhecemos instituições de ensino abandonadas a sua própria sorte, sem receber recursos do governo para pagar as despesas básicas de água, luz e papelaria há mais de 6 meses.

De tudo que presenciei, me chamou atenção uma turma de alfabetização de adultos que visitamos nas proximidades da Escola Mateus Sansão Mutemba. A ‘sala de aula’ era na verdade improvisada dentro de uma pequena igreja. Quando entramos vimos o quadro de giz no chão e os alunos sentados em pedras. O calor era insuportável (pelo menos pra nós, visitantes branquelas), mas ficamos empolgadas em conhecer aquelas mulheres que passavam suas tardes buscando a alfabetização, buscando o conhecimento.

A professora, uma moça jovem e bonita, nos explicou sobre o processo de alfabetização bilíngüe. Descobrimos que o trabalho que ela faz é voluntário, há apenas uma ajuda de custo por mês que seria de aproximadamente 50 reais. Por fim, quando perguntadas se gostariam de dizer algo, uma aluna ergueu a mão, na hora pensei que ela iria reivindicar melhores condições, mas ela apenas nos agradeceu e disse para fazermos o que fosse possível para que aquele programa de alfabetização continuasse a existir.

Pensei em todas as oportunidades de estudo que tive: as escolas particulares nas quais estudei, os caríssimos materiais que encapava antes do ínicio das aulas, a graduação, a especialização, o mestrado e o doutorado e, diante disto tudo que me foi propiciado, me senti pequena diante da grandeza daquele pedido.

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