quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Com a palavra, os professores moçambicanos

Participei de um Seminário de Capacitação Docente nos dias 14, 15, 16 e 17 de dezembro de 2009 que visava a aprimar os conhecimentos de aproximadamente 40 professores das seguintes instituições de ensino: Escola Primária Samora Machel, Escola Secundária Heróis Moçambicanos, Escola Primária de Mitete, Sala anexa de Malabwe, Escola de Maguiguane.
Nos quatro dias do seminário, foram discutidas questões referentes ao trabalho do professor, ao processo de ensino de leitura e escrita em Língua Portuguesa, às experiências de ensino bilíngue no país, às propostas educaiconais para a conscientização da igualdade de gêneros e aos cuidados com a saúde (combate ao HIV/SIDA e nutrição).
A seleção dos tópicos veio ao encontro da realidade educacional e social moçambicana na qual: 1) grande número de alunos no Ensino Básico e Secundário apresentam graves dificuldades na Língua Portuguesa não sendo capaz de ler e compreender textos simples, 2) o ensino bilíngue começa a ganhar espaço e apresentar seus primeiros resultados, 3) os papéis de homens e mulheres na sociedade ainda é alvo de intensos debates e divergências, 4) há inúmeras denúncias de abuso sexual nas escolas e 5) o índice de contaminação em HIV/SIDA continua a progredir.
A estruturação do seminário em aulas e debates também se mostrou propícia para o desenvolvimento das atividades. Os palestrantes souberam explorar suas propostas pedagógicas com muita habilidade e, além disto, promoveram momentos de trabalho em grupo nos quais os professores tiveram a oportunidade de debater com seus pares para depois apresentar seus pensamentos diante de todos. Desta forma, os conhecimentos teóricos puderam ‘dialogar’ com a prática do professor e sua realidade pedagógica.
O grupo de teatro Kuvubma teve um papel importante no seminário apresentando pequenas esquetes retratando o cotidiano da família e dos alunos moçambicanos, retomando brevemente o conteúdo ministrado pelos palestrantes e convidando os professores ao debate.
Os relatos dos professores, durante os momentos de exposição oral, apontavam para a emergência de um plano de capacitação docente que contemple: 1) as propostas do Novo Currículo para o Ensino Básico Moçambicano, 2) aprimoramento da capacidade de leitura e escrita dos alunos e dos próprios professores, 3) contato com propostas metodológicas inovadoras que extrapolem o ensino tradicional. Creio que para suprir estas necessidades, deve-se organizar novos seminários como este e até mesmo ampliar sua proposta de capacitação com a criação de grupos de estudo sobre o novo currículo Moçambicano, clubes de leitura para professores, momentos de contação de história para os alunos nas bibliotecas.
Da mesma forma, se faz urgente a redução do assombrazo número de alunos nas salas de alfabetização (60, 70, 80 as vezes quase 100), a criação de bibliotecas nas escolas (pra mim, a biblioteca é o coração da escola) e a ampliação de recursos (além do quadro e do giz).
Em suma, foi uma experiência muito interessante poder conhecer melhor a realidade e as opiniões dos professores moçambicanos.

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