sábado, 13 de março de 2010

O BEBÊ DA DONA ROSA

12.03.2010
1h30min - Toca o telefone, no visor, o nome da Dona Rosa. Penso: Tá nascendo. Atendo. Ela diz: Muitas dores patroa, não consigo andar até o hospital. Respondo que já estou a caminho.
1h45min - Pego a Dona Rosa, o filho mais velho dela, a mãe e o irmão mais novo e percorro de carro os 3Km para o hospital. Não é longe... de carro. Certamente é longe para quem está dando a luz
1h55min - Chegamos ao 'hospital'. É, na verdade, uma casa com três cômodos e uma varanda. Há alertas sobre AIDS, Tuberculose, nada que lembre um local de nascimento. A grávida número 1 já está lá dentro.... andando e deitando.... Dona Rosa é a número 2. Há uma enfermeira/parteira com cara de sono na varanda.
2h - Pára um carro. Desce a grávida número 3.
2h05min - Pára uma moto. Desce a grávida número 4. Cambaleando. Duas outras enfermeiras/parteiras com cara de sono aparecem.
2h10min - Ouço gemidos e choros. Descubro que é da grávida 3 e 4. O moço da moto volta, desta vez com a sogra da grávida número 4.
2h15min - Os gemidos e choros aumentam.
2h20min - A enfermeira sai da sala do meio e diz que Dona Rosa ainda vai demorar. Ela está deitada na maca. Sem roupas, pálida como uma folha de papel. O rapaz da moto volta, desta vez com a cunhada, também grávida de alguns poucos meses.
2h25min - Volto pra casa após instruir o filho a me avisar quando a criança nascesse e qual seria a hora de vir buscar a Dona Rosa e o bebê pra levar pra casa.
2h45min às 3h30min - Fico rolando na cama até que desisto e tomo uma remedinho pra dormir
6h - Acordo com o despertador. No celular, uma mensagem enviada as 4h: Dei a luz. É uma menina. Ligo. Pergunto se está bem. Digo pra me avisar quando posso buscá-las.
11h - Ainda sem notícias, vou ao hospital. Elas já foram embora. A pé. Ligo. Ela diz  que foi embora porque o celular não funcionava.
11h20min - Chego na casa da família da Dona Rosa. A mãe deitada em uma esteira no quintal alimentando uma criança com menos de 2 anos. Ela agradeçe por ter ajudado. Entro na casa. Na chão da sala, estão deitadas Dona Rosa e a bebê. Ela é grande, mexe as perninhas e os braços e até abriu um pouco os olhos. Pergunto o nome. Ela responde Ainda (o que quer dizer que ainda não sabe). Isto reforça os rumores que ouvi. Ela pensa em dar a criança para adoção, disse para uma outra Sra do condomínio que tem um mulher que vai ficar com a criança. Fico triste.
Volto pra casa pensando, assim nasce a filha de Dona Rosa, com um pré-natal que se restringiu a tirar pressão e dar comprimidos de paracetanol, sem médico obstreta, sem anestesia, sem fonoaudióloga para auxiliar na primeira mamada, sem teste do pézinho, sem enxoval (além de umas coisinhas que eu comprei), sem berço, poupando sua mãe de grandes conflitos da maternidade, como a terrível tarefa de escolher a decoração do quarto, as mamadeiras de bico anti-refluxo, as chupetas, as lembrancinhas, o enfeite da porta,  e o maior de todos os dilemas: a roupinha que vai sair do hospital e que será eternizada em várias fotos. Nasceu como vai viver, sem grandes ambições, contando apenas com a mãe ou com alguém que a crie, vivendo um dia de cada vez.

2 comentários:

  1. Esta é a dura realidade que vemos cada dia!

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  2. Pois é eu que o diga, so soube que existe esse tipo de teste de pezinho muito depois de ter o meu bebe, mas o que o ministro ta ai a fazer so aquecer poltrona.

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